A tatuagem
Atílio acordou e sentiu uma dor no braço. Arregaçou a manga longa da camisa e viu, ainda vermelho de sangue, o número sete tatuado em seu braço. Atílio não era daqueles que se admiravam com coisas esquisitas, com coisas que fugiam ao cotidiano. No entanto, aquele número tatuado em seu braço o fez percorrer os labirintos de sua memória, pois não se lembrava de ter feito tal tatuagem.
Atílio tomava café na cozinha enquanto folheava o jornal. Quando passava pela seção de medicina e saúde se lembrou da tatuagem. Arregaçou a manga do paletó e a viu de novo, com menos sangue. A cor negra agora era mais forte e os contornos do número sete mais nítidos. Chegando à seção policial começou a investigar de como teria se dado aquilo. Várias hipóteses se apresentavam em fila indiana ao seu pensamento inquiridor. Ria de algumas e outras as achava possíveis.
No sinal vermelho esperava o sinal verde enquanto assistia um sujeito cuspindo fogo na frente dos carros. Pensou no fogo. “Será que sai com fogo?” Lembrou de Marcílio, seu amigo bombeiro. Talvez lhe telefonasse e perguntaria se o fogo resolveria. Com fogo se faz muita coisa. O que seria de nós sem o fogo. O sinal vermelho apagou e o sinal verde acendeu. O cuspidor de fogo recebeu algumas moedas e os carros seguiram.
No trabalho conversava com Ângela.
- Por que o número sete?
- Não sei, quando acordei estava aí, em meu braço.
- Como assim? Como uma tatuagem aparece assim, Atílio?
- Sei lá, não me lembro. E é coisa recente, pois ainda dói.
- Dói? O que você fez ontem?
- Nada, ora. Jantei, vi tv e fui dormir.
- Bem, a tatuagem discorda do que você diz.
- Como assim?
- Por que você não vai ao médico? Tenho um amigo psiquiatra muito bom. Anota o número dele.
- Tá.
Depois do almoço, Atílio foi ao banheiro e esfregou álcool sobre o número sete. Nada. Ele não ligava, talvez estivesse em transe com alguma mulher e não lembrava. Atílio não era dependente químico, mas em algumas festas já perdera a razão por alguns momentos em meio a pequenas orgias.
Atílio jantava na sala e via tv. Ignorou algumas mensagens para beber e para curtir a noite. Ficaria em casa sóbrio por algum tempo até entender, ou melhor, se lembrar o porquê da tatuagem. Desligou a tv e foi para a cama, dormiu. Na manhã do dia seguinte, o celular despertou Atílio. A dor no braço voltara. Levantou-se, foi ao banheiro, acendeu a luz, arregaçou a manga longa de sua camisa e viu, ainda vermelho de sangue, o número seis tatuado.