Do outro lado, distante, no escuro, sento-me novamente para assistir os filmes que reprisam em minha cabeça. Já vi cada uma das cenas, já decorei todas as falas e mesmo assim esta maldição não passa. Ela se alimenta de mim, ela cava moradia em mim e aqui se instala, se agrava, me domina. Imóvel fico pois amarrado a ti estou. Tua mão que queima ao acender o fogo arde na minha pele; tua emoção que irrompe ao iluminar o breu em mim escorre; a vontade de aqui estar lentamente morre. Corre, foge, desaparece, me abandone como fez uma vez, duas, três. Do que importa rabiscar o mais íntimo de meus pensamentos com suas feições se não só de paixões vive um iludido?
Fui esquecido - e esta verdade dói, me corrói, me lembra todas as vezes o porque este buraco que se alarga a passadas largas o faz. Aqui jaz uma criança, uma esperança, um projeto de humanidade que foi cerceado antes de ser. Uma fagulha no escuro que você tanto ama; um corpo desfalecido numa cama se culpando por não ser suficiente.
E no meio de tanta gente, no turbilhão dessa gritaria, você não me ouviria, ouviria? Minha voz enfraquece, minha mente as palavras esquece, e este fogo que te aquece só serve pra mensurar a distância entre nós.
Aqui um corpo padece;
Você finaliza sua prece;
Sua voz é a última coisa a habitar meus pensamentos,
E mesmo que eu apareça nos seus de tempos em tempos,
Eu sei que ai não é o meu lugar.