Two times Elisabeth

A Rainha Elisabeth arrebatou o récorde de reinado da Rainha Victoria, e vai indo mais longe, longeva até aonde leva a glória. Inda há poucos dias, completou 91 anos de venturosa existência, firme feito só ela sob o regal manto, a coroa majestática, e o cetro à mão, durão de lhe dar razão.

Ver Sua Majestade ao vivo, pese sua popularidade junto aos súditos, não é, no entanto, fato tão corriqueiro. Acredito que seu próprio consorte, Prince Philip, com sorte, e sua constante e fiel companhia, há de vê-la, eu lhes diria, uma vez ao dia. Não minto, embora não tenha como provar e é a convicção que mo faz afirmar.

E na tênue linha da verdade, inda ouso me jactar: mais do que o Príncipe, numa única jornada, vi Elisabeth um par de vezes. Peta, mentira, potoca, podem dizer o que lhes vier à cuca, mas aconteceu comigo, que nem de Sua Majestade, como forasteiro, mereceria abrigo.

E se não estou enganado, até preciso a data: 19 de junho de 1999. Lotado que estava na Embaixada em Londres, Seção Consular, coube-me, entre sete outros membros da Missão, acompanhar o Embaixador do Brasil na solene apresentação de credenciais, no Palácio de Buckingham, onde, normalmente, a Soberana, recebe dignitários estrangeiros por um período relativamente curto e curtido do ano. Na maior parte do tempo, ela vive em Balmoral, na Escócia, longe do burburinho londrino.

Pois bem, na cerimônia, em que éramos, como acompanhantes, meros figurantes, geralmente usando roupas alugadas, fraques, tomamos as carruagens abertas e conduzidos ao Palácio, tivemos a oportunidade de, um a cada vez, ser levado ao salão nobre onde o Embaixador nos apresentava à Rainha. Elisabeth, de pé, sem luvas e de uns olhos extasiantes fazia-nos uma pergunta protocolar e mal esperando pela resposta não mais que linear, nos despedia para o próximo da fila entrar.

E naquela mesma data, na parte da tarde, aí já nos jardins do Palácio e sem o aparato cerimonioso, Sua Majestade fazia um pequeno tour para saudar súditos e convidados. E eis-me lá marcando presença já até com algum ar de intimidade. Mas dessa vez não ousei estender-lhe a mão, ou dar um assovio para não trair meu desvario. Até porque, o filho herdeiro Charles a acompanhava, e poderia, quiçá, reagir de forma inesperada em defesa de sua mommie dearest.

Ainda na mesma data realizou-se recepção de gala na Residência diplomática do Brasil para se celebrar a feliz ocasião que marcava o início de mais uma gestão ambassadorial. A revista Caras, entre outros órgãos de nossa imprensa, cobriu o evento com farto material fotográfico. Na única tomada em que saí, estava de costas, e tampouco me reconheci...Mas ainda lhes juro, no duro que a Elisabeth, duas vezes vi.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/04/2017
Reeditado em 26/04/2017
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