O Papa e o Anticristo
O PAPA E O ANTICRISTO
Miguel Carqueija
Portando a sua lança de aço cortante o Anticristo penetrou na Capela Sistina, onde fizera confinar o último Papa, Francisco V. Este, um ancião de 80 anos, aguardava sereno, rezando com grande concentração.
— Levante-se, miserável! Chegou a sua hora!
O Papa ergueu-se e encarou o seu inimigo, um homem robusto, ainda na plenitude das suas forças, cuja capa negra amplificava o aspecto sinistro do seu semblante.
— O que fará você após me matar?
— Todo o Vaticano será profanado e o mundo conhecerá que a Igreja Católica foi derrotada e esmagada. Ninguém mais terá coragem para se opor a mim!
O Papa sorriu, apesar de tudo.
— Crês mesmo, filho do demônio, que terás poder para levar teu propósito maligno até o fim?
O Anticristo apontou sua lança:
— E quem mais poderá me impedir? Não pretendes ser o Vigário de Cristo, e não estás derrotado? Vou matar-te agora!
Antes, porém, que ele pudesse se aproximar, o pontífice retirou o revólver de um dos bolsos de sua batina branca e disparou, três vezes seguidas, sussurrando: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!”
“Agora” — pensou o Papa, enquanto o outro estrebuchava — “teremos finalmente a Era Marial, a Era de Paz prevista por São Luís Grignon de Montfort e por Nostradamus”.
O Anticristo tombara, esvaindo-se em sangue, deixando cair a lança ruidosamente.
— Como pode... ter um revólver? — murmurou, já nos estertores finais.
— É simples. Ninguém jamais cogitou de revistar um papa para ver se ele está armado.
Francisco V tratou de agir rapidamente. De um painel removível na parede retirou um planador dobrável, desdobrou-o, puxou o cadáver de seu inimigo e colocou-o no veículo raso, que funcionava com linhas magnéticas. Abriu uma das janelas, sentou no posto de pilotagem e decolou. Logo sobrevoava a Praça de São Pedro, tomada pelas hostes do Anticristo, e despejou o corpo diante da turba. Com um alto-falante, gritou:
— Aqui está o seu líder! Agora, deixem de perseguir e exterminar o povo cristão! Sem esse homem vocês já nada podem fazer!
Pousou corajosamente diante da multidão, sabendo que os seus seguidores, não obstante o massacre da população do Vaticano, pelejavam a alguma distância para salvá-lo. Saltando do planador, Francisco V ergueu o crucifixo diante dos estarrecidos milicianos do Anticristo.
Um a um, todos se ajoelharam diante do Papa.
Rio de Janeiro, 1/6/2014
imagem pixabay
O PAPA E O ANTICRISTO
Miguel Carqueija
Portando a sua lança de aço cortante o Anticristo penetrou na Capela Sistina, onde fizera confinar o último Papa, Francisco V. Este, um ancião de 80 anos, aguardava sereno, rezando com grande concentração.
— Levante-se, miserável! Chegou a sua hora!
O Papa ergueu-se e encarou o seu inimigo, um homem robusto, ainda na plenitude das suas forças, cuja capa negra amplificava o aspecto sinistro do seu semblante.
— O que fará você após me matar?
— Todo o Vaticano será profanado e o mundo conhecerá que a Igreja Católica foi derrotada e esmagada. Ninguém mais terá coragem para se opor a mim!
O Papa sorriu, apesar de tudo.
— Crês mesmo, filho do demônio, que terás poder para levar teu propósito maligno até o fim?
O Anticristo apontou sua lança:
— E quem mais poderá me impedir? Não pretendes ser o Vigário de Cristo, e não estás derrotado? Vou matar-te agora!
Antes, porém, que ele pudesse se aproximar, o pontífice retirou o revólver de um dos bolsos de sua batina branca e disparou, três vezes seguidas, sussurrando: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!”
“Agora” — pensou o Papa, enquanto o outro estrebuchava — “teremos finalmente a Era Marial, a Era de Paz prevista por São Luís Grignon de Montfort e por Nostradamus”.
O Anticristo tombara, esvaindo-se em sangue, deixando cair a lança ruidosamente.
— Como pode... ter um revólver? — murmurou, já nos estertores finais.
— É simples. Ninguém jamais cogitou de revistar um papa para ver se ele está armado.
Francisco V tratou de agir rapidamente. De um painel removível na parede retirou um planador dobrável, desdobrou-o, puxou o cadáver de seu inimigo e colocou-o no veículo raso, que funcionava com linhas magnéticas. Abriu uma das janelas, sentou no posto de pilotagem e decolou. Logo sobrevoava a Praça de São Pedro, tomada pelas hostes do Anticristo, e despejou o corpo diante da turba. Com um alto-falante, gritou:
— Aqui está o seu líder! Agora, deixem de perseguir e exterminar o povo cristão! Sem esse homem vocês já nada podem fazer!
Pousou corajosamente diante da multidão, sabendo que os seus seguidores, não obstante o massacre da população do Vaticano, pelejavam a alguma distância para salvá-lo. Saltando do planador, Francisco V ergueu o crucifixo diante dos estarrecidos milicianos do Anticristo.
Um a um, todos se ajoelharam diante do Papa.
Rio de Janeiro, 1/6/2014
imagem pixabay