Travessura

- Ai!

Eu estava terminando de tomar banho quando ouvi o grito. E em seguida, a porta da frente bater.

- O que foi? - Gritei, já fechando a água do chuveiro.

- Droga! - Ouvi-a exclamar.

Enrolei uma toalha na cintura e saí do banheiro, bem a tempo de vê-la subindo as escadas segurando a mão direita com a esquerda, uma expressão de dor no rosto.

- O que houve?

- As crianças... eu fui atender a porta, estavam batendo...

- O que houve com a sua mão?

- Pensei que quisessem doces, mas avançaram em cima de mim sem falar nada! Uma delas me mordeu antes que eu tivesse tempo de fechar a porta.

Exibiu a mão. Uma mordida feia. Havia arrancado sangue.

- Que doideira! Precisamos lavar e enfaixar isso... vamos ao banheiro.

De volta ao banheiro, lavei cuidadosamente a mão dela na pia. Depois, joguei um antisséptico em cima do ferimento e passei uma gaze em volta da mão.

- Pronto! - Disse eu sorrindo. - Vai ficar como nova!

- Está doendo...

- Melhor tomar um analgésico. E não abra mais a porta pra esses pirralhos... conseguiu identificar quem eram? Alguém da vizinhança?

- Nunca os vi antes - suspirou ela. - Umas crianças encardidas, macilentas, maltrapilhas... com cara de quem não comia há dias.

- Estranho. Como teriam vindo parar aqui? Quer que fique com você?

Ela pegou o frasco de analgésico no armário do banheiro antes de responder.

- Não, tudo bem, foi só o susto. Não perca o seu dia de trabalho por minha causa. Se eu não me sentir melhor até a hora de sair, ligo pra Jane e aviso que não irei.

Encheu um copo de água na pia e tomou um comprimido. Dei-lhe um beijo na testa, à guisa de consolo.

- Você que sabe... mas, na dúvida, é melhor não abrir a porta para crianças que não gritam "gostosuras ou travessuras".

Ela fez uma careta.

- Acho que da próxima vez, eu é quem vou retribuir a mordida...

[03-02-2017]