Marca texto

Fui bruscamente acordado às três da manhã por meia dúzia de soldados que invadiram meu quarto pela janela, vestidos de preto dos pés à touca ninja, fuzis nas mãos. Uma lanterna de LED foi acesa em direção ao meu rosto. Ergui as mãos num gesto de defesa.

- O que significa isso? - Balbuciei.

- Onde está o marca texto? - Inquiriu o soldado que me apontava a lanterna.

- Que... marca texto?

- O marca texto que você pegou ontem na biblioteca... não tente negar, temos as imagens das câmaras de segurança!

Engoli em seco.

- Mas eu... não fiz nada com o marca texto. Foi uma retribuição, uma gentileza da garota que estava sentada na mesma mesa que eu. Não roubei nada!

- Sabemos que não roubou. Mas queremos o marca texto. Onde está?

Suspirei.

- Na minha mochila. Bolso da frente.

O soldado com a lanterna fez um gesto de cabeça. Outro brutamontes pegou minha mochila, que estava sobre uma cadeira e abriu o zíper do bolso. Ergueu a caneta marca texto amarela fluorescente num gesto de vitória.

- Agradecemos a sua colaboração - disse o soldado que me havia interrogado, desligando a lanterna. E para os demais:

- Vamos!

Saíram do quarto pela janela, tão silenciosamente quanto haviam entrado.

Fiquei um bom tempo sentado na cama, esperando meu coração desacelerar. Depois, devagarinho, abri a gaveta do criado-mudo.

O marca texto que a garota havia me dado ainda estava lá dentro.

[17-01-2017]