AMOR INGLÓRIO - por Olavo Nascimento
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-- Toda vez que voltar aqui, não vou deixar você ficar com mais ninguém. Externou Alice em tom sério, apesar de parecer uma brincadeira.
-- Pena é eu não poder falar a mesma coisa. Rebateu Olímpio com um sorriso nos lábios.
Os dois haviam terminado mais alguns instantes de sexo e se aprontavam para deixar a cabine alugada por 40 minutos. O rapaz era frequentador assíduo daquelas termas e, por isso mesmo, já conhecia intimamente várias garotas que ali trabalhavam alugando seus corpos. Ele não tinha preferência por nenhuma delas e desejava apenas se extasiar com qualquer uma. Como os períodos dentro das cabines eram curtos, muitas vezes Olímpio não se satisfazia e repetia a dose com outra garota na mesma noite. Olímpio batia o ponto naquele local pelo menos uma vez na semana e a maioria das moças tentava logo se aproximar do bom cliente assim que ele chegava. Mas, a partir daquela conversa com Alice, a sua rotina mudou e a sua vida entrou em conflitos.
Naquela mesma noite dos dois, ao voltarem para o salão da casa, a moça não desgrudou do pé de Olímpio e chegou a recusar clientes alegando estar ocupada com ele que. estranhando o fato, advertiu-a: -- Você não pode recusar cliente aqui Alice. É o seu trabalho e não quero atrapalhar. Fique à vontade e olhe para o seu lado.
-- Enquanto você estiver aqui, nem eu e nem você, estará em cabines com outras pessoas. Vamos nos respeitar mutuamente, porque a partir de agora você é meu e eu sou sua. Totalmente sua... Rebateu a moça cheia de pose e convicção.
Olímpio se surpreendeu e até se assustou: -- Você está falando sério? Isso não existe aqui dentro minha querida. Eu não posso exigir esse compromisso de você e muito menos você de mim. Estou querendo me divertir ainda com outra menina e você está impedindo a aproximação delas. Vá em frente atrás de seus ganhos e esqueça esse papo.
-- Se você está com vontade de novo, sou eu que vou satisfazê-lo. Respondeu a moça e continuou: -- Se eu não sair de perto, as outras respeitam e não se aproximam. É norma da casa as garotas não interromperem as outras e deixarem que o convite parta dos homens. Portanto...
-- Portanto, minha querida, se você continuar com essa história, eu vou-me embora. Ameaçou o rapaz, decretando: -- Eu vou escolher outra garota que ainda não tenha saído comigo e espero que me entenda. Gosto de conhecer outras novidades na cama.
-- Mas nenhuma delas que estão aqui, eu garanto que lhe dará tanto prazer como eu. Desafiou a moça, continuando: -- Você deve saber disso, porque já ficamos juntos outras vezes e gostei muito de ir às estrelas. Você me completa, me alimenta, me extasia e sei também o quanto você gosta dos meus carinhos.
-- Também gosto de estar com você, mas aqui sou um cliente e não seu amante. Retrucou Olímpio com irritação.
-- Mas ser sua amante é o que eu quero! Ou você ainda não percebeu? Exultou a moça.
-- Mas aqui não é lugar para dois amantes se encontrarem. Eu gosto muito de você, mas aqui dentro não cola. Recuou o rapaz.
-- Então vamos marcar um encontro lá fora para a gente conversar melhor. Precisamos de tempo para combinar certas coisas. Precisamos nos conhecer melhor fora daqui. Propôs a moça cheia de intenções.
-- Tudo bem, mas não estou entendendo aonde você quer chegar... Concordou Olímpio sem mostrar firmeza, incomodado com aquele papo bastante longo para o seu gosto. E sentenciou para terminar com o assédio: -- Vamos deixar essa conversa para a próxima visita, porque já está tarde e preciso sair.
Alice acompanhou-o até o vestiário, ajudou-o a se vestir, beijou-lhe o rosto e despediu-se com a mesma imposição: -- Estarei sempre lhe esperando aqui para combinarmos tudo. Bom final de semana meu amor.
Olímpio saiu, alugou um táxi e no caminho de volta para o hotel onde sempre se hospedava naquela cidade interiorana de São Paulo, não conseguiu esquecer aquelas últimas palavras de Alice: "Bom final de semana meu amor." ... E pensando com seus botões: "Que mulher maluca! Aonde já se viu uma garota de programa apaixonar-se e logo por mim? Só rindo mesmo..."
Não foi o motivo daquela conversa, que fez com que Olímpio só retornasse àquele ambiente três semanas após. Ele nunca levou a sério aquela proposta de Alice e até havia se esquecido de suas palavras. A sua ausência um pouco prolongada, foi causada por precisar se dedicar com mais afinco ao seu trabalho na Bovespa, a Bolsa de Valores na capital paulista. A época estava muito agitada no mercado de ações e a necessidade de participação integral naquela atividade, espaçou suas viagens semanais agendadas com empresários e agricultores da cidade. E foi por querer aliviar tanto estresse, responsabilidades e correrias por valores cotados em papéis, que Olímpio retornou à casa sem pensar em Alice ou em qualquer outra garota. "Que viesse a primeira que lhe aparecesse", pensou ele.
E a primeira que apareceu e chegou perto de si, foi a Ágata com muita sensualidade e promessas de momentos prazerosos. Era uma garota nova na casa e envolvente em seus traços morenos, como se fosse uma índia insinuante enviada com poucas roupas pela sua tribo. Olímpio não perdeu tempo: cheio de vontade e querendo diminuir o atraso avançado, agiu de imediato. Segurou a moça pelo braço, levou-a para a cabine, jogou-a na cama e sem delongas, adentrou entre suas pernas com a força e a virilidade de um leão. Ele se aliviou como nunca e a moça, como quase todas as outras, apenas se preocupou em fingir orgasmos para incentivar o rapaz e incrementar o clima. Uma farsa de atriz sempre muito bem engendrada por mulheres que têm dificuldades com sua libido ou que aceitam a transa sem desejos, apenas para agradar o parceiro.
Quando retornou ao salão com seu roupão para tomar um drinque, Olímpio reparou Alice dando atenção a outro cliente em conversa animada com risos e gargalhadas. As piadas contadas pelo acompanhante pareciam de bom grado, até Alice se deparar com Olímpio e correr a seu encontro, saudando-o: -- Oh! Meu amor! Você chegou agora?
-- Sim, tem quase uma hora que estou aqui - confirmou o rapaz, não sem antes adverti-la, - mas você não deveria abandonar o seu cliente por minha causa. Volte para o lado dele.
-- Já lhe disse que quando você estiver aqui - rebateu a moça, - a gente tem que se respeitar. Vou lá desculpar-me com ele e retorno já.
-- Mas se eu fosse ele, não aceitaria esse desprezo. Muita falta de educação de sua parte. Retrucou Olímpio assim que ela retornou.
-- Deixe esse assunto pra lá e leve-me para a cabine que eu estou morrendo de saudades de você. Ofereceu-se a moça.
-- Agora não - devolveu Olímpio, justificando-se, - dê um tempo porque acabei de sair de uma cabine com a Ágata. Garota nova aqui que mostrou a que veio.
-- Então você me traiu? E o nosso trato? Questionou a moça, deixando Olímpio boquiaberto.
-- Eu não traí ninguém Alice, porque aqui ninguém é de ninguém. Rebateu o rapaz com irritação.
-- Não é bem assim meu amor, porque você é meu e não vou compartilhá-lo com ninguém. Insistiu a moça.
A conversa, além de impedir a chegada desejada de outras garotas, estava incomodando Olímpio que resolveu colocar um ponto final na história, determinando: -- Se é assim, então vou aguardar a sua saída do trabalho para passarmos a noite juntos em outro local. Se você quer mesmo ser a minha amante, vai ter que provar isso.
-- Oba! Já está combinado. Alegrou-se a rapariga, continuando: -- Meu expediente desta noite termina mais cedo e estarei livre a partir das 23:30 horas.
Já era início da madrugada quando o casal, com intenções diferentes, chegou naquele hotel sempre frequentado pelo rapaz. Enquanto Alice sonhava com uma noite maravilhosa de entregas e de prazeres, Olímpio não via oportunidade melhor para conversar com calma e a sós com a moça. Ele precisava entender o que estava acontecendo e tirar aquela loucura da cabeça dela. Olímpio era um homem casado de 45 anos com mulher dedicada e filhos pequenos e não podia se envolver daquela maneira, muito menos com uma garota de programa.
A noite correu com os dois se envolvendo e se entregando às delícias do sexo. Foram orgasmos e mais orgasmos extasiando dois corpos elétricos e sensíveis a toques. A moça, mesmo com a sua experiência de garota de programa e habituada com tudo que rola na cama, parecia nunca estar satisfeita, querendo mais, mais e mais, até o cansaço chegar e os dois adormecerem.
Ao acordar por volta das 9:30 horas, Olímpio pediu um desjejum reforçado e jogou-se embaixo de uma ducha morna e relaxante. A noite foi muito enlouquecida e ele precisava retornar à capital. Mas, antes, precisava colocar as coisas às claras para aquela moça que, ao levantar-se, encontrou Olímpio de roupa mudada e aguardando-a para o café da manhã. E ela estranhou: -- Ué! Você já vai?
-- Não sem antes termos uma conversa. Estava aguardando você acordar.
-- Mas que conversa é essa? Não estava tudo combinado?
-- Nem tudo... Não tenho condições de mantê-la como minha amante Alice. Não moro nesta cidade e só apareço aqui de vez em quando a trabalho. Agora mesmo estou sabendo pela direção da Bolsa, que só voltarei aqui no próximo dia 22, bem perto do Natal. Ou seja: daqui a 15 dias.
-- Não importa, desde que nesse dia você seja apenas meu. Não quero vê-lo com outras mulheres. Principalmente aquelas garotas lá das termas.
-- Nada disso querida. Não vou deixar de frequentar o seu local de trabalho, apenas porque você quer.
-- Não precisa deixar de frequentá-lo, desde que seja comigo.
-- Mas que obsessão é essa agora? Tire isso da cabeça garota, porque não lhe pertenço.
-- A obsessão meu querido, é que você é o homem da minha vida. O homem que tanto preciso e que tanto procurava. Se você não sabe ou nem reparou, eu fui às nuvens várias vezes contigo. Sua pele me atiça, seu cheiro me envolve e seu corpo deixa-me aliviada e satisfeita. Talvez por causa da minha profissão, com homens entrando e saindo, há muito tempo que não sabia o que é um orgasmo até você aparecer. Voltei a gozar desde a primeira vez que nos vimos e em todas as outras ocasiões. Igual a você só teve um que já se foi há muito tempo. Entendeu agora? Entendeu porque não posso deixá-lo pra outra?
-- Mas vai ter que deixar minha querida. O meu trabalho é muito estressante e preciso relaxar de vez em quando. Seja com você ou com qualquer outra. Vou continuar frequentando o seu trabalho e escolhendo as garotas que eu quiser, independente de você gostar ou não. Não quero envolver-me com vocês além do sexo.
-- Mas você não precisa procurar outras se tem a mim. Eu deixo até de trabalhar para vir encontrar-me com você aqui. Além de ficarmos o tempo que quisermos, você não precisará pagar por meus serviços. Sou sua amante e amante não cobra por sexo. Ama com gosto e prazer.
-- A sua insistência já está me irritando. Mas vamos lá! No próximo dia 22 deste mês de dezembro, vou estar por aqui na última visita do ano para os meus clientes. Pretendo aproveitar para dar uma relaxada nas termas e, se você quiser, podemos retornar pra cá. Passaremos mais uma noite juntos.
-- Tudo bem, mas a relaxada nas termas terá que ser comigo. Não vou deixar outra se encostar em você.
-- Mas eu posso não resistir os assédios e entrar na onda. E você já me conhece: não vou negar fogo com você depois.
-- Não haverá depois se acontecer isso meu querido. Não estou aqui pra receber migalhas. Não tente fazer isso para não se arrepender.
-- Então faça o que quiser, porque nas minhas vontades você não manda. E vamos embora que já esgotou o meu tempo aqui. Apronte-se que eu vou fechar a conta.
Após deixar o hotel a bordo de outro táxi, Olímpio deixou a moça em casa e partiu para a rodoviária. O rapaz não gostava de dirigir nas estradas à noite e preferia a tranquilidade de uma viagem de ônibus. E na sua viagem de volta, não tirou as últimas palavras de Alice da cabeça. Pensou ele: o que será que ela quis dizer com "Não tente fazer isso para não se arrepender."
Como sempre acontecia, por ser um homem muito ligado profissionalmente no seu trabalho, Olímpio se esquecia completamente de suas andanças naquelas viagens e, com o correr dos dias atarefados, qualquer lembrança de Alice ou de outra rapariga daquela cidade interiorana acabou de vez. Mas sua ansiedade voltou à tona na véspera do dia 22.
Após se despedir dos colegas da Bovespa com os votos de feliz natal numa confraternização em restaurante da capital paulista, Olímpio pegou a estrada de madrugada , por precisar chegar em Jaboticabal ainda na parte da manhã. Hospedou-se no mesmo hotel, tomou uma ducha bem relaxante, descansou e passou o restante do dia com seus clientes da cidade em almoços, drinques e reuniões proibidas em se falar de trabalho.
Já havia de passado das 22:00 horas, quando Olímpio chegou nas termas em ritmo musical de festa e danças entre clientes e garotas da casa. O rapaz não estava muito sóbrio por causa da bebedeira com seus clientes até àquela hora e resolveu puxar a Ágata para dançar. Mas...
Alice se intrometeu entre os dois e extravasou para a colega: -- Sai pra lá Ágata, porque o cliente é meu! Ele vai dançar é comigo!
-- Aqui, quem escolhe com quem quer ficar é o cliente - rebateu Ágata de pronto, completando: -- E ficou bem claro quem ele escolheu!
-- Vamos parar com isso Alice! Repreendeu-a o rapaz, determinando com indignação: -- Vá procurar outra turma e deixe-me em paz, porque hoje eu quero um repeteco com a Ágata.
-- Mas a sua preferida sou eu. Não vou permitir. Ameaçou a moça.
-- Não precisamos da sua permissão Alice - rebateu Olímpio determinando: -- Venha comigo Ágata e reserve uma cabine pra gente.
Os dois saíram com os olhos fumegantes de Alice, que ainda completou: -- Esse nosso caso Olímpio, acabou de terminar aqui pra mim, pra você e pra ela. Vocês não vão ter nem tempo para se arrepender.
Olímpio deu de ombros, fez pouco caso das ameaças de Alice e nem se incomodou com a presença dela acompanhando-os até à cabine escolhida, cuja porta fechou-se diante de si.
Trinta minutos após, a casa estava em polvorosa pela tragédia que aconteceu e que deixou todos em sobressaltos. Policiais civis e militares fecharam as portas da casa, proibiram a entrada e saída de pessoas e começaram a realizar perícias, investigações e colher depoimentos dos presentes. A perícia ao chegar à cabine, encontrou dois corpos nus estendidos numa cama com sangue para todos os lados. Olímpio e Ágata foram assassinados sem dó e piedade, quando faziam amor. Os corpos estavam abraçados com várias perfurações e pancadas nas cabeças, sendo que Olímpio estava com uma faca pontiaguda cravada na nuca e Ágata com uma tesoura na garganta. Os golpes desferidos com precisão foram fatais e bem localizados para não deixar chances de sobrevivências. Não foi difícil para a polícia descobrir que antes de desferir os golpes fatais, a assassina invadiu a cabine com uma cópia da chave e desferiu os primeiros golpes nas cabeças das vítimas com um ferro de engomar. Além dessas provas, a assassina se entregou e confessou os crimes ao deixar em cima do corpo de Olímpio, uma mensagem escrita e assinada com batom vermelho em letras garrafais que dizia: "SE VOCÊ NÃO QUIS SER MEU, TAMBÉM NÃO SERÁ DE MAIS NINGUÉM" - "ALICE".
======================================================== N.A.: (Texto inspirado, mas com outro desfecho, na chacina ocorrida na noite de 22/12/2016 em Jaboticabal - SP, quando um homem disparou arma de fogo contra seis pessoas dentro de uma casa de prostituição, assassinando a dona do estabelecimento de 72 anos, o barman, a garçonete sua neta, um empresário da cidade e duas garotas de programa, Uma delas era sua habitual companhia, procurada por ele na ocasião e que morreu acompanhada do empresário num dos quartos da casa),
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-- Toda vez que voltar aqui, não vou deixar você ficar com mais ninguém. Externou Alice em tom sério, apesar de parecer uma brincadeira.
-- Pena é eu não poder falar a mesma coisa. Rebateu Olímpio com um sorriso nos lábios.
Os dois haviam terminado mais alguns instantes de sexo e se aprontavam para deixar a cabine alugada por 40 minutos. O rapaz era frequentador assíduo daquelas termas e, por isso mesmo, já conhecia intimamente várias garotas que ali trabalhavam alugando seus corpos. Ele não tinha preferência por nenhuma delas e desejava apenas se extasiar com qualquer uma. Como os períodos dentro das cabines eram curtos, muitas vezes Olímpio não se satisfazia e repetia a dose com outra garota na mesma noite. Olímpio batia o ponto naquele local pelo menos uma vez na semana e a maioria das moças tentava logo se aproximar do bom cliente assim que ele chegava. Mas, a partir daquela conversa com Alice, a sua rotina mudou e a sua vida entrou em conflitos.
Naquela mesma noite dos dois, ao voltarem para o salão da casa, a moça não desgrudou do pé de Olímpio e chegou a recusar clientes alegando estar ocupada com ele que. estranhando o fato, advertiu-a: -- Você não pode recusar cliente aqui Alice. É o seu trabalho e não quero atrapalhar. Fique à vontade e olhe para o seu lado.
-- Enquanto você estiver aqui, nem eu e nem você, estará em cabines com outras pessoas. Vamos nos respeitar mutuamente, porque a partir de agora você é meu e eu sou sua. Totalmente sua... Rebateu a moça cheia de pose e convicção.
Olímpio se surpreendeu e até se assustou: -- Você está falando sério? Isso não existe aqui dentro minha querida. Eu não posso exigir esse compromisso de você e muito menos você de mim. Estou querendo me divertir ainda com outra menina e você está impedindo a aproximação delas. Vá em frente atrás de seus ganhos e esqueça esse papo.
-- Se você está com vontade de novo, sou eu que vou satisfazê-lo. Respondeu a moça e continuou: -- Se eu não sair de perto, as outras respeitam e não se aproximam. É norma da casa as garotas não interromperem as outras e deixarem que o convite parta dos homens. Portanto...
-- Portanto, minha querida, se você continuar com essa história, eu vou-me embora. Ameaçou o rapaz, decretando: -- Eu vou escolher outra garota que ainda não tenha saído comigo e espero que me entenda. Gosto de conhecer outras novidades na cama.
-- Mas nenhuma delas que estão aqui, eu garanto que lhe dará tanto prazer como eu. Desafiou a moça, continuando: -- Você deve saber disso, porque já ficamos juntos outras vezes e gostei muito de ir às estrelas. Você me completa, me alimenta, me extasia e sei também o quanto você gosta dos meus carinhos.
-- Também gosto de estar com você, mas aqui sou um cliente e não seu amante. Retrucou Olímpio com irritação.
-- Mas ser sua amante é o que eu quero! Ou você ainda não percebeu? Exultou a moça.
-- Mas aqui não é lugar para dois amantes se encontrarem. Eu gosto muito de você, mas aqui dentro não cola. Recuou o rapaz.
-- Então vamos marcar um encontro lá fora para a gente conversar melhor. Precisamos de tempo para combinar certas coisas. Precisamos nos conhecer melhor fora daqui. Propôs a moça cheia de intenções.
-- Tudo bem, mas não estou entendendo aonde você quer chegar... Concordou Olímpio sem mostrar firmeza, incomodado com aquele papo bastante longo para o seu gosto. E sentenciou para terminar com o assédio: -- Vamos deixar essa conversa para a próxima visita, porque já está tarde e preciso sair.
Alice acompanhou-o até o vestiário, ajudou-o a se vestir, beijou-lhe o rosto e despediu-se com a mesma imposição: -- Estarei sempre lhe esperando aqui para combinarmos tudo. Bom final de semana meu amor.
Olímpio saiu, alugou um táxi e no caminho de volta para o hotel onde sempre se hospedava naquela cidade interiorana de São Paulo, não conseguiu esquecer aquelas últimas palavras de Alice: "Bom final de semana meu amor." ... E pensando com seus botões: "Que mulher maluca! Aonde já se viu uma garota de programa apaixonar-se e logo por mim? Só rindo mesmo..."
Não foi o motivo daquela conversa, que fez com que Olímpio só retornasse àquele ambiente três semanas após. Ele nunca levou a sério aquela proposta de Alice e até havia se esquecido de suas palavras. A sua ausência um pouco prolongada, foi causada por precisar se dedicar com mais afinco ao seu trabalho na Bovespa, a Bolsa de Valores na capital paulista. A época estava muito agitada no mercado de ações e a necessidade de participação integral naquela atividade, espaçou suas viagens semanais agendadas com empresários e agricultores da cidade. E foi por querer aliviar tanto estresse, responsabilidades e correrias por valores cotados em papéis, que Olímpio retornou à casa sem pensar em Alice ou em qualquer outra garota. "Que viesse a primeira que lhe aparecesse", pensou ele.
E a primeira que apareceu e chegou perto de si, foi a Ágata com muita sensualidade e promessas de momentos prazerosos. Era uma garota nova na casa e envolvente em seus traços morenos, como se fosse uma índia insinuante enviada com poucas roupas pela sua tribo. Olímpio não perdeu tempo: cheio de vontade e querendo diminuir o atraso avançado, agiu de imediato. Segurou a moça pelo braço, levou-a para a cabine, jogou-a na cama e sem delongas, adentrou entre suas pernas com a força e a virilidade de um leão. Ele se aliviou como nunca e a moça, como quase todas as outras, apenas se preocupou em fingir orgasmos para incentivar o rapaz e incrementar o clima. Uma farsa de atriz sempre muito bem engendrada por mulheres que têm dificuldades com sua libido ou que aceitam a transa sem desejos, apenas para agradar o parceiro.
Quando retornou ao salão com seu roupão para tomar um drinque, Olímpio reparou Alice dando atenção a outro cliente em conversa animada com risos e gargalhadas. As piadas contadas pelo acompanhante pareciam de bom grado, até Alice se deparar com Olímpio e correr a seu encontro, saudando-o: -- Oh! Meu amor! Você chegou agora?
-- Sim, tem quase uma hora que estou aqui - confirmou o rapaz, não sem antes adverti-la, - mas você não deveria abandonar o seu cliente por minha causa. Volte para o lado dele.
-- Já lhe disse que quando você estiver aqui - rebateu a moça, - a gente tem que se respeitar. Vou lá desculpar-me com ele e retorno já.
-- Mas se eu fosse ele, não aceitaria esse desprezo. Muita falta de educação de sua parte. Retrucou Olímpio assim que ela retornou.
-- Deixe esse assunto pra lá e leve-me para a cabine que eu estou morrendo de saudades de você. Ofereceu-se a moça.
-- Agora não - devolveu Olímpio, justificando-se, - dê um tempo porque acabei de sair de uma cabine com a Ágata. Garota nova aqui que mostrou a que veio.
-- Então você me traiu? E o nosso trato? Questionou a moça, deixando Olímpio boquiaberto.
-- Eu não traí ninguém Alice, porque aqui ninguém é de ninguém. Rebateu o rapaz com irritação.
-- Não é bem assim meu amor, porque você é meu e não vou compartilhá-lo com ninguém. Insistiu a moça.
A conversa, além de impedir a chegada desejada de outras garotas, estava incomodando Olímpio que resolveu colocar um ponto final na história, determinando: -- Se é assim, então vou aguardar a sua saída do trabalho para passarmos a noite juntos em outro local. Se você quer mesmo ser a minha amante, vai ter que provar isso.
-- Oba! Já está combinado. Alegrou-se a rapariga, continuando: -- Meu expediente desta noite termina mais cedo e estarei livre a partir das 23:30 horas.
Já era início da madrugada quando o casal, com intenções diferentes, chegou naquele hotel sempre frequentado pelo rapaz. Enquanto Alice sonhava com uma noite maravilhosa de entregas e de prazeres, Olímpio não via oportunidade melhor para conversar com calma e a sós com a moça. Ele precisava entender o que estava acontecendo e tirar aquela loucura da cabeça dela. Olímpio era um homem casado de 45 anos com mulher dedicada e filhos pequenos e não podia se envolver daquela maneira, muito menos com uma garota de programa.
A noite correu com os dois se envolvendo e se entregando às delícias do sexo. Foram orgasmos e mais orgasmos extasiando dois corpos elétricos e sensíveis a toques. A moça, mesmo com a sua experiência de garota de programa e habituada com tudo que rola na cama, parecia nunca estar satisfeita, querendo mais, mais e mais, até o cansaço chegar e os dois adormecerem.
Ao acordar por volta das 9:30 horas, Olímpio pediu um desjejum reforçado e jogou-se embaixo de uma ducha morna e relaxante. A noite foi muito enlouquecida e ele precisava retornar à capital. Mas, antes, precisava colocar as coisas às claras para aquela moça que, ao levantar-se, encontrou Olímpio de roupa mudada e aguardando-a para o café da manhã. E ela estranhou: -- Ué! Você já vai?
-- Não sem antes termos uma conversa. Estava aguardando você acordar.
-- Mas que conversa é essa? Não estava tudo combinado?
-- Nem tudo... Não tenho condições de mantê-la como minha amante Alice. Não moro nesta cidade e só apareço aqui de vez em quando a trabalho. Agora mesmo estou sabendo pela direção da Bolsa, que só voltarei aqui no próximo dia 22, bem perto do Natal. Ou seja: daqui a 15 dias.
-- Não importa, desde que nesse dia você seja apenas meu. Não quero vê-lo com outras mulheres. Principalmente aquelas garotas lá das termas.
-- Nada disso querida. Não vou deixar de frequentar o seu local de trabalho, apenas porque você quer.
-- Não precisa deixar de frequentá-lo, desde que seja comigo.
-- Mas que obsessão é essa agora? Tire isso da cabeça garota, porque não lhe pertenço.
-- A obsessão meu querido, é que você é o homem da minha vida. O homem que tanto preciso e que tanto procurava. Se você não sabe ou nem reparou, eu fui às nuvens várias vezes contigo. Sua pele me atiça, seu cheiro me envolve e seu corpo deixa-me aliviada e satisfeita. Talvez por causa da minha profissão, com homens entrando e saindo, há muito tempo que não sabia o que é um orgasmo até você aparecer. Voltei a gozar desde a primeira vez que nos vimos e em todas as outras ocasiões. Igual a você só teve um que já se foi há muito tempo. Entendeu agora? Entendeu porque não posso deixá-lo pra outra?
-- Mas vai ter que deixar minha querida. O meu trabalho é muito estressante e preciso relaxar de vez em quando. Seja com você ou com qualquer outra. Vou continuar frequentando o seu trabalho e escolhendo as garotas que eu quiser, independente de você gostar ou não. Não quero envolver-me com vocês além do sexo.
-- Mas você não precisa procurar outras se tem a mim. Eu deixo até de trabalhar para vir encontrar-me com você aqui. Além de ficarmos o tempo que quisermos, você não precisará pagar por meus serviços. Sou sua amante e amante não cobra por sexo. Ama com gosto e prazer.
-- A sua insistência já está me irritando. Mas vamos lá! No próximo dia 22 deste mês de dezembro, vou estar por aqui na última visita do ano para os meus clientes. Pretendo aproveitar para dar uma relaxada nas termas e, se você quiser, podemos retornar pra cá. Passaremos mais uma noite juntos.
-- Tudo bem, mas a relaxada nas termas terá que ser comigo. Não vou deixar outra se encostar em você.
-- Mas eu posso não resistir os assédios e entrar na onda. E você já me conhece: não vou negar fogo com você depois.
-- Não haverá depois se acontecer isso meu querido. Não estou aqui pra receber migalhas. Não tente fazer isso para não se arrepender.
-- Então faça o que quiser, porque nas minhas vontades você não manda. E vamos embora que já esgotou o meu tempo aqui. Apronte-se que eu vou fechar a conta.
Após deixar o hotel a bordo de outro táxi, Olímpio deixou a moça em casa e partiu para a rodoviária. O rapaz não gostava de dirigir nas estradas à noite e preferia a tranquilidade de uma viagem de ônibus. E na sua viagem de volta, não tirou as últimas palavras de Alice da cabeça. Pensou ele: o que será que ela quis dizer com "Não tente fazer isso para não se arrepender."
Como sempre acontecia, por ser um homem muito ligado profissionalmente no seu trabalho, Olímpio se esquecia completamente de suas andanças naquelas viagens e, com o correr dos dias atarefados, qualquer lembrança de Alice ou de outra rapariga daquela cidade interiorana acabou de vez. Mas sua ansiedade voltou à tona na véspera do dia 22.
Após se despedir dos colegas da Bovespa com os votos de feliz natal numa confraternização em restaurante da capital paulista, Olímpio pegou a estrada de madrugada , por precisar chegar em Jaboticabal ainda na parte da manhã. Hospedou-se no mesmo hotel, tomou uma ducha bem relaxante, descansou e passou o restante do dia com seus clientes da cidade em almoços, drinques e reuniões proibidas em se falar de trabalho.
Já havia de passado das 22:00 horas, quando Olímpio chegou nas termas em ritmo musical de festa e danças entre clientes e garotas da casa. O rapaz não estava muito sóbrio por causa da bebedeira com seus clientes até àquela hora e resolveu puxar a Ágata para dançar. Mas...
Alice se intrometeu entre os dois e extravasou para a colega: -- Sai pra lá Ágata, porque o cliente é meu! Ele vai dançar é comigo!
-- Aqui, quem escolhe com quem quer ficar é o cliente - rebateu Ágata de pronto, completando: -- E ficou bem claro quem ele escolheu!
-- Vamos parar com isso Alice! Repreendeu-a o rapaz, determinando com indignação: -- Vá procurar outra turma e deixe-me em paz, porque hoje eu quero um repeteco com a Ágata.
-- Mas a sua preferida sou eu. Não vou permitir. Ameaçou a moça.
-- Não precisamos da sua permissão Alice - rebateu Olímpio determinando: -- Venha comigo Ágata e reserve uma cabine pra gente.
Os dois saíram com os olhos fumegantes de Alice, que ainda completou: -- Esse nosso caso Olímpio, acabou de terminar aqui pra mim, pra você e pra ela. Vocês não vão ter nem tempo para se arrepender.
Olímpio deu de ombros, fez pouco caso das ameaças de Alice e nem se incomodou com a presença dela acompanhando-os até à cabine escolhida, cuja porta fechou-se diante de si.
Trinta minutos após, a casa estava em polvorosa pela tragédia que aconteceu e que deixou todos em sobressaltos. Policiais civis e militares fecharam as portas da casa, proibiram a entrada e saída de pessoas e começaram a realizar perícias, investigações e colher depoimentos dos presentes. A perícia ao chegar à cabine, encontrou dois corpos nus estendidos numa cama com sangue para todos os lados. Olímpio e Ágata foram assassinados sem dó e piedade, quando faziam amor. Os corpos estavam abraçados com várias perfurações e pancadas nas cabeças, sendo que Olímpio estava com uma faca pontiaguda cravada na nuca e Ágata com uma tesoura na garganta. Os golpes desferidos com precisão foram fatais e bem localizados para não deixar chances de sobrevivências. Não foi difícil para a polícia descobrir que antes de desferir os golpes fatais, a assassina invadiu a cabine com uma cópia da chave e desferiu os primeiros golpes nas cabeças das vítimas com um ferro de engomar. Além dessas provas, a assassina se entregou e confessou os crimes ao deixar em cima do corpo de Olímpio, uma mensagem escrita e assinada com batom vermelho em letras garrafais que dizia: "SE VOCÊ NÃO QUIS SER MEU, TAMBÉM NÃO SERÁ DE MAIS NINGUÉM" - "ALICE".
======================================================== N.A.: (Texto inspirado, mas com outro desfecho, na chacina ocorrida na noite de 22/12/2016 em Jaboticabal - SP, quando um homem disparou arma de fogo contra seis pessoas dentro de uma casa de prostituição, assassinando a dona do estabelecimento de 72 anos, o barman, a garçonete sua neta, um empresário da cidade e duas garotas de programa, Uma delas era sua habitual companhia, procurada por ele na ocasião e que morreu acompanhada do empresário num dos quartos da casa),
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