A MEIA NOITE LEVAREI SUA ALMA
O paciente encontrava-se no quarto do hospital sozinho.
Virava de um lado para o outro sem conseguir dormir.
Sentiu um vento gelado arrepiar-lhe o corpo todo.
Teve num minuto uma incontinência urinária.
Percebeu que havia molhado as roupas e o leito.
Repentinamente uma voz no quarto retumbou:
_ Finalmente chegou a sua hora...
Ele olhou para um lado e para o outro e não viu ninguém.
_ Quem está ai?
Perguntou o paciente tendo o corpo todo suado.
_ Vim lhe trazer algo...
Respondeu a mesma voz de um canto escuro do quarto.
Olhando na direção de onde podia estar alguém o paciente falou:
_ Quem afinal é você?
_ Pensei que já soubesse...
Ouviu o enfermo a voz enquanto olhava
para um canto mais escuro do quarto.
Então ele viu um vulto de vestes negras com negras grinaldas
parecendo mais a noiva eterna das almas.
_ Aproxime-se de mim para que possa te ver..,
Pediu o doente sentindo gelar seu sangue.
O vulto devagar saiu da penumbra e foi se aproximando.
O paciente espantado viu os olhos mais negro que a mais escura
de todas as noites na terra.
Mostrava nas mãos duas alianças feitas de ouro preto.
_ Pegue a que tem o seu nome bem lindo gravado nela...
O doente sem se opor pegou aquela com seu nome.
_ Por quê logo eu? Perguntou o enfermo ainda incrédulo.
_ todos na vida tem seu dia...
Rebateu a noiva eterna das almas.
_ Eu ainda não estou preparado...
O pobre homem argumentou achando que fosse escapar.
_ Meu querido, a hora certa é agora...
Respondeu aquela criatura calma enquanto o enfermo suava.
_ Por favor, peço que encarecidamente me conceda
mais tempo...
Pediu aquele homem em seu leito de enfermidade.
_ Serei agradecido se você me der um longo momento.
Com a calma maior do que a existente no mundo aquele vulto
disse retrocedendo de costas para o canto escuro do quarto:
_ Certo, permito a você o seu pedido...
_ Mas ficarei lá no altar a lhe esperar...
O pobre enfermo sem entender direito o significado do dialogo
disse entusiasmado:
Pode ficar lá esperando que um dia vou lá casar contigo...
A voz soou mais alto e forte:
_ A meia noite levarei sua alma...
E o vulto desapareceu tão de repente quanto no quarto entrou.
Feliz e sorrindo o pobre enfermo pensou:
Enfim , na verdade enganei a morte...
A enfermeira entrou naquele instante para trazer-lhe o remédio
e o paciente aproveitou para perguntar:
_ Linda enfermeira quantas horas são?
A enfermeira olhando com os olhos mais negros do que a mais
escura das noites respondeu:
_ Falta um minuto para a meia noite...
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REEDITANDO...
BELO HORIZONTE, 14 DE NOVEMBRO DE 2016. MINAS GERAIS.
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Jacques Calabia Lisbôa
Enviado por Jacques Calabia Lisbôa em 26/08/2008
Reeditado em 07/08/2014
Código do texto: T1147134
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