O vaso
O vaso distorceu sua sombra com aquela espreguiçada. Não deveria se mexer mas não se conteve. Muitos e muitos anos ali colocado sem que uma alma viva fizesse um mínimo esforço se quer de admirá-lo. Apenas ele e o tempo, parados, enquanto tudo a sua volta seguia o ritmo normal. Quantos sois haviam deitados na suas costas... Quantas perguntas ficaram esquecidas quase adormecidas para apenas serem feitas à pessoa que o colocou lá. Seriam perguntas diretas e objetivas, simples como seu próprio ser. Ele era um vaso comum daqueles que se compra em qualquer lugar. Marrom de cerâmica, tinha a forma de uma ogiva mas sem ponta. Na outra extremidade um estreitamento na altura do seu pescoço onde propositalmente foi colocado um cordão duplo e grosso de argila da mesma cor do resto do seu corpo. Sua boca sempre aberta tinha o mesmo diâmetro de sua barriga. Estava lá sem galhos, sem chapéu, sem nada. Era um vaso apenas decorativo que nem precisava ser vaso. E agora ele tinha espreguiçado sim. Uma pena que ninguém notou.