As Graças do Atirador Vilela
Eram uma graça atrás da outra as mocinhas do Atirador Vilela. Divinópolis, sua cidade, naquela segunda metade da década de 50, era outra graça também, ainda que poluidora como ela só. Mas tinha mais a oferecer à sua população, e aos forasteiros que lá buscavam trabalho, comércio estudos e a realização de suas vidas. Além das graças dos botões da roseira do Vilela, prontas pra desabrochar.
Gosto também dava ao Vilela, nos fins de semana, levar sua animada troupe para o sítio nos arredores da urbe do Divino, onde mantinha o salutar hábito de cultivar a terra e alimentar sua diversa criação. Punha-as todas ornando a carroceria de sua caminhonete verde e partia todo cheio de si, com sua Mercês ao lado.
E o desfile, mais que a matinée do Cine Divinópolis, era o momento mais aguardado pela sôfrega rapaziada, que ia descobrindo, penosamente, que a arte das telas nem sempre imitava a vida.
O inusitado, entretanto, intrometeu-se naquele determinado dia que doutra forma seria idílio espetacular, de se sonhar: enquanto a caminhonete se aproximava da aglomeração de mancebos que aguardavam no passeio a entrada para a matinée, seu motor apagou.
Uma empurradela, e no tranco, o motor voltaria a pegar.
Só que coube às donzelas descer da carroceria e meter mãos à obra, diante de toda aquela macharia que, petrificada, ou mesmo só abobada, não tugiu nem mugiu. Tampouco o esforço das meninas aplaudiu.
E a partir daquele incidente, que tanto machucou o coração das moçoilas, novo e imperioso trajeto foi desenhado e suavemente imposto ao Atirador Vilela. Feito em Gilda, a da tela, nunca mais houve cena como aquela.