Vigil-ânsia de liberdade
Papai contava um caso dum prisioneiro que, aparentemente, autorizado a tomar um solzinho matinal na porta da cadeia pública de Pitangui, alucinado pelo respiro da liberdade, desabalou numa corrida morro abaixo
até ser alcançado pela bala certeira do fuzil de um soldado que, antes de disparar, ainda teria gritado ao fugitivo que parasse. Mas não parou, dum só golpe, tombou.
Era um tempo remoto, quando na subida do Lavrado, hoje todo urbanizado, a cadeia era o único prédio. Podia haver um casario miúdo, disperso, mas é difícil encontrar registro histórico. A propósito, vem-me à lembrança quadro pintado a óleo que, ao pintar a antiga venda do Pingo, bem no miolo da cidade, retratava, ao fundo aquela vastidão esverdeada e mostra uma ou outra tapera bem espaçada.
E ao passar hoje pelo complexo penitenciário em que se transformou a antiga e solitária cadeia, todo murado ocupando um quarteirão, deparo-me em uma de suas esquinas, com uma cruzinha branca, colada externamente ao muro, com a inscrição Pedro Alves de Campos, e uma datação de 1943, em tinta preta.
Passo, assim, a supor que o indigitado seria o desafortunado fugitivo do relato de papai, dando-lhe agora, além da convicção, prova cabal, fatual. Cumpridor à risca de seu ofício, o atirador vai ver até que se condoeu daquele fatal orifício.
Você, leitor, diante dum tal descarrilho, apertaria também o gatilho?