Príncipe Danilo

Nos tempos em que o Raimundo da Padaria Boa Sorte era apenas aspirante a hair stylist e que o promissor e ainda imberbe Chiquinho marchava para Brasília para fazer cabeças coroadas, Pitangui devia ter pouco mais que uma meia dúzia de fígaros para aparar as clinas citadinas, e ruralinas. Os nomes que me ocorrem com mais clareza são os de Valdemar Mamede, Procópio, Vovozim, Zico e Geraldo Lemos que já se afastava das tesouras, cedendo lugar aos irmãos Doca e João.

Cliente regular e regulado de papai - que nos tonsurava com a sua Haarschneidemaschine manual - eu, além de penar com os fios recalcitrantes que a máquina não só mascava, mas arrancava, tinha que me contentar com o topetinho básico que décadas mais tarde iria homenagear-me Ronaldinho Fenômeno, na conquista do penta, no Japão.

O sonho meu era com o chamado corte meia-cabeleira, o mais popular entre os contemporâneos, ou ainda, mais alto, o cobiçado estilo Príncipe Danilo.

Mas a realidade, draconiana, impôs-se de outra forma: quando papai liberou-me para ir ao barbeiro, e até ser o feliz possuidor de um pente Flamengo e o famoso espelhinho oval de bolso - com direito a musa exclusiva no verso - o desapontamento manifestou-se logo que me assentei na Campanile do Zico barbeiro, da rua Nova:

- Seu cabelo é muito reberde, num dá pra rebaxá não. E meia cabilera nem pensá qui o formato de sua cabeça, mais o seu tamanho...

Agüentei, inconformado, o corte possível, que era uma réplica dos anteriores. Tinha mais ene razões para perder a cabeça dali pra frente...E me consolei com a entrada alegre do Geraldo Campos no salão.

Entre o Elvis e o Geraldo...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/09/2016
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