Rainha Nada Parte 3 - O Final

-...Seja bem vinda ao Reino dos Sonhos - Exclama a voz sombria.

Uma luz escabreada atinge o trono e clareia melhor a sala, assentado o rei está com um elmo feito de ossos e ferro em sua cabeça ocultada. Seu corpo pendia em volta de um manto tão negro quanto a noite, e sua pele marrom fazia um contraste tímido, como se fosse um só com a vestimenta.

- Me responda, o que queres?

- Eu procuro um forasteiro do qual amo, certa noite ele foi até meus aposentos e de lá sumiu sem nada dizer.

Foi então que o senhor daquela realidade se levantou e retirou o elmo, revelando - se, o ser por quem Nada tinha se apaixonado na noite anterior. De súbito ela estremeceu, o coração palpitou e as mãos tremeram, pois ali ela percebeu por quem havia se afeiçoado, ele não era um mortal ou muito menos um deus ele era um perpétuo, algo muito maior do que qualquer entidade cósmica, um ser que não morreria nunca. E nas estrelas dos olhos dele ela percebeu que o amor era retribuído.

O terror dominou Nada, que tossiu por muitas vezes até expelir o fruto no chão da sala do trono do senhor dos sonhos, em seus aposentos ela acordou e ouviu uma voz vinda de trás dela:

- Por que me procurou? E porque foges de mim? - Indagou o rei dos sonhos.

Ela sai do recinto e desce as escadas em grande velocidade, o ser estranho a segue...

- O procurei pois o amo mais do que qualquer mortal já foi amado por uma mulher. Diz ela aos prantos e continua...

- E fugi pois não é permitido aos mortais amarem os Perpétuos. Desastres acontecem se isto ocorrer, não só a ti, como para mim e para o meu povo.

O senhor dos sonhos a alcança e a envolve em um abraço...

- Ninguém me amou tanto ao ponto de ir me procurar, jamais tomei uma mulher como minha, quero que se case comigo Nada, e que governe o reino dos sonhos ao meu lado eternamente.

Naquele momento Nada estava mortalmente assustada, e apesar de amá- lo sabia que aquilo era errado, ela não conseguia aceitar a destruição dele ou até mesmo a própria.

Tomada por este medo ela usou um de seus feitiços e tomou a forma de uma gazela, e correu o mais rápido que pode para longe dele e da cidade, porém o sonho era muito veloz e partiu a sua caça, cansada ela voltou a sua forma normal porém não parava, subiu uma pequena montanha e no alto se escondeu.

Ao virar-se viu o sonho em sua forma mais bela seu manto preto esvoaçava com o vento da noite e seus olhos brilhavam como estrelas no céu escuro, Ele segurou o braço dela e exclamou:

- Ninguém poderá amá- la mais que eu, nenhum mortal ou divindade nada!!!.

Cansada ela se entregou a ele, e seu manto negro a cobriu e envoltos em trevas e fogo, eles fizeram amor a noite inteira e todos os mortais da cidade sonharam com o casal naquela noite, sentiram o ardor da paixão e o gosto salgado do suor de Nada, e todas as coisas que sonhavam, sonharam com o amor.

Quando o sol se ergueu pela manhã e viu os dois juntos, soube que algo proibido havia ocorrido, irado ele soltou uma grande bola de fogo que atingiu a metrópole de vidro demolindo os seus lindos prédios extinguindo a vida e transformando o local em deserto.

Nada devastada com o ocorrido gritou de dor, olhou para os céus e blasfemou contra o sol que permaneceu inerte lá no alto.

Brandiu ela: "Isto ocorreu pelo que fizemos sonho, e coisas piores ocorrerão se eu ficar ao seu lado!!!".

A princesa tomou a mão do mestre dos sonhos como fazem os amantes e o abraçou calorosamente, e antes que o mesmo percebe-se Nada se jogou do topo da montanha e seu corpo pereceu destroçando nas rochas abaixo.

Depois de morta, seu espírito despertou em frente aos portões do reino da morte, logo percebeu que tinha alguém parado atrás dela e era o senhor dos sonhos, com uma face irada.

- Me fizestes sofrer? Escolhestes a Morte a mim? Você podia ser minha rainha! Póis bem, lhe darei uma vez mais meu amor e se me recusares novamente, condenarei sua alma a dor eterna.

Nada permanecia de cabeça baixa, inerte as diretivas do perpétuo frustado.

- Por isso eu pergunto doce amor, quer ser minha rainha?

Ele recebe mais silêncio, um silêncio fúnebre.

- "Responda-me" indaga o rei dos sonhos para a rainha morta. Diz o ancião, em suas costas já e possível ver a aurora florescer novamente.

A rainha da Cidade de Vidro o olhou com ternura e afeto. " Como posso eu ficar contigo, se meu povo não existe mais e meu reino é ruína? Se eu continuar contigo só acontecerá catástrofes e dor e tudo será mais sombrio para os mortais que virão".

Seus olhos lacrimejam perante a conclusão.

- Agora deixe-me trilhar o meu caminho pelo mundo dos mortos e me esqueça senhor dos sonhos.

Ele soltou a mão dela e a deixou vagar pelo caminho sem sol, rumo a sua penitência, pela última vez ele implorou já com a voz embargada e Nada continuou a andar sem olhar para trás e ouvir o seu clamor.

- E o que aconteceu meu avô? - Indaga o jovem consternado pelo desfecho.

- Ela se foi, a história termina aqui meu Guerreiro. Disse o ancião - Agora pegue este vidro e o deixe aqui pois você não é mais jovem virou um guerreiro, e será assim que contarás para seu filho está história para que ele vire um homem também.

O ancião se levanta e apaga o que sobrou do fogo, abraça o seu neto e sussurra algumas palavras em seus ouvidos, e os dois tomam seu caminho de volta para casa sobre o olhar do sol nascente.

Fim.

Matheus Lacerda
Enviado por Matheus Lacerda em 24/09/2016
Reeditado em 01/02/2017
Código do texto: T5771423
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