Morreu de (Des)amor

Cena

Uma mesa com um corpo nu, alvo como a neve chega a ser rosado, cabeça, mãos e pés atados por fitas adesivas. Dou leves tapas em seu rosto para que acorde, ela abre os olhos e se assusta....

- O que está havendo aqui? - Um tom desesperador em sua voz.

- O que parece estar acontecendo para você?

- Sei lá, me solte você está louco!?

- Não será possível fazê-lo, e não estou louco.

Ela tenta se libertar em vão, o barulho abafado que vem de fora é de chuva, uma sem raios ou ventos, apenas constante e apreciável aos ouvidos.

- Não tente, eu o fiz para você não fugir... - Digo isto com um certo pesar.

O lugar é pequeno, um cômodo, as paredes são pintadas de preto uma cor bem significativa para o momento em questão, a luz é central e bem em cima da vítima, ao lado da mesa uma bancada com alguns utensílios "básicos".

- Eu tentei não chegar a isso, não queria que justamente você fosse mais ''um'' - Neste momento acaricio os seus cabelos, e aprecio os olhos saltados e com veias.

- Fale o que pretende, está tudo confuso...

- Pretendo salvar outros de suas crueldades.

- Mas que crueldades?

- Sério? Talvez a pior de todas, matar a alma. - Começo a pendurar quadros de fotos nossas, cartas e poemas também. Tudo ao alcance de sua vista.

- ...

- Você me prometeu algo, e como sempre faz com outros fez comigo.

- Não foi minha intenção. - Lamenta senciente.

- Nunca é, nunca foi, nunca será. Talvez saiba do que digo.

O silêncio toma conta do local, nos encaramos sem dizer uma palavra sequer, somente olhando como se estivéssemos conversando mentalmente, eu dou mais uma olhada no quarto, para ver se tudo está organizado, o plástico filme cobre o chão, as facas estão perfiladas na mesa e todas as recordações postadas.

Isso é bom, ela partirá sabendo os motivos, certos ou não no ponto de vista dela, ainda sim terá consciência, e é isto que importa.

Me aproximo de seus ouvidos e quebro o silêncio aterrador.

- Eu te Amo ou lhe amei, mas no dia em que você me deixou sem motivo algum, matou o meu coração e arrancou a minha alma com suas mãos entrópicas, sugou toda forma de vida que restava em mim, mesmo eu sabendo do risco "sua natureza orgulhosa" ainda sim confiei, nada mais me prende a você.

- Eu ainda te amo, vamos tentar resolver isso... Podemos voltar. - Sua súplica sai em desespero.

- Voltar? Não tem mais volta cansei de esperá-la, sei que você pode estar fazendo o que fez em mim com outros, pretendo remover esse mal pela raiz.

- Então vai mesmo me matar? - Indagou jocosamente.

Viro pra minha bancada com plena certeza do que farei, pego uma adaga prateada e vejo o reflexo dela como se estivesse conformada, como se realmente cometesse o pior dos crimes, e tivesse plena consciência do feito.

Com a adaga na mão subo em cima dela e a finto pela última vez, o brilho em seus olhos denunciam a vontade de viver, o arrependimento por ter agido de forma tão superficial enquanto estava viva.

Ela sussurra baixinho dizendo vários nãos e lágrimas escorrem pelo seu lindo rosto, não sei se verdadeiras ou falsas, já não tento mais compreende-la.

Enfio-lhe o instrumento no coração, ela diz ''te amo", a opacidade vai tomando conta de sua íris, uma visão magnífica, meus lábios vão de encontro aos dela, um último beijo, uma despedida com a mesma sensação de quando ela me deixou, só que com um pouco mais de realismo, relembro nossos momentos e sorrio feliz porque nada mais irá estraga-los, serão assim para sempre.

Matheus Lacerda
Enviado por Matheus Lacerda em 22/09/2016
Reeditado em 25/01/2019
Código do texto: T5769414
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