ACASO DA FATALIDADE

ACASO DA FATALIDADE

Nicássia Ugadugu (descendente de nigerianos, porém maranhense) é uma moreninha, não mais do que um metro e meio, de amabilidades e puros sorrisos. Mas quis o destino que ela recebesse um salário mínimo para ralar de segunda a sábado, na JÔ & SUY, uma loja de calçados, estabelecida à 5ª Avenida, Setor Vila Nova, Goiânia – Goiás. Ela mora na Vila Canaã, no final da Avenida Anhanguera, coincidentemente quase em frente à loja POLLYANNA CALÇADOS.

Jammylly Pimpinella, como se diz por aí no sentido exato da palavra, é um mulherão, nos seus quase dois metros de estatura. É goiana de pé rachado, e goianiense da pura linhagem, pois é nascida e criada na cidade de Goiânia; moradora de aluguel, de um barraco, escondido atrás da 5ª Avenida, no Setor Vila Nova, bem próximo da JÔ & SUY. Porém trabalha na POLLYANNA CALÇADOS, citada lá atrás. Esta coitada também foi sacaneada pelo destino, pois também recebe a merreca de um salário, arredondado, só para não dizer que é mínimo.

Nicássia e Jammylly moram mais ou menos 17 km (dezessete quilômetros) distante uma da outra; e logicamente; longe dos seus respectivos trabalhos, os mesmos 17 km (dezessete quilômetros).

Uma cá e a outra lá; e vice-versa.

Não se conheciam até se encontrarem na tietagem dos jogadores da seleção brasileira de futebol, nas cercanias de um hotel de luxo. A goiana pisou literalmente no calo da maranhense. Na camaradagem do pedido de desculpas e aceitação deste, tendo como pano de fundo o fato de ambas estarem desacompanhadas e predispostas a jogar charme, se possível receber algo em troca, que seja um sorriso, resolveram tietar juntas.

Nos gritos de “Neymar!” para cá, “Neymar!” para lá, acabaram ficando amigas, sem que a diferença de estatura, uma a terça parte mais alta que a outra, atrapalhasse. Daí combinaram um encontro, no Shopping Passeio das Águas, para jogar conversa fora, no final de semana subsequente.

Ao se encontrarem, primeiro, como não poderia ser diferente, “trocaram” os números de celulares. E dentro das conversas de trivialidades comuns, cada uma disse onde morava, onde e com que trabalhava, respectivamente. Coincidentemente ambas são vendedoras de sapatos; e por incrível que pareça, como escrito anteriormente, uma mora ao lado do trabalho da outra.

Terminado aquele encontro de passeio amigável, cada uma foi para sua morada, sem maiores pensamentos, de ambas as partes. Mas no frescor do lar, em cada uma acendeu a luz da inteligência. Não sabemos quem ligou para quem, mas o fato é que concordaram em tentar trocar de trabalho, uma com a outra, se os patrões aceitassem. Pois eis que aceitaram e lá estão, a grandona morando do lado do seu trabalho, bem como a nanica ao lado do seu.

Vão perguntarem por que não trocaram de moradia, se é mais prático; e eu respondo sem mais delongas: não sei!

Se vivem ou viverão felizes para sempre é irrelevante para dar fim a este texto...

P. S. Narrativa de segunda mão, de moral verdadeira. Trocados os nomes e os endereços; preservadas as profissões e características físicas.