ANACONDA

Foi numa manhã de primavera que ela chegou à pequena cidade de Areia Branca. Toda vizinhança em polvorosa, pois nunca tinham visto uma beleza igual. Parecia um anjo caminhando com passinhos rápidos fazendo o vestido florido esvoaçar. Um ano após a sua chegada, ela já estava totalmente inserida na rotina da cidade e seus moradores tudo faziam para cair nas graças da professorinha de biologia. A macharia disponível, se coloca à disposição para acompanhá-la à missa aos domingos ou para carregar suas sacolas de compras, mas ela nem ai pra tanto chamego. Até conhecer Redclif. Foi paixão à primeira vista e logo no dia de Santo Antonio o padroeiro de Areia Branca. Padre Olavo não pensou duas vezes e foi abençoando a união. As baratinhas de sacristia, ops! -, as beatas seguidoras do padre, encontram um novo assunto para fuxicar - o novo casal de Areia Branca, igual dois pombinhos arrulhando pelos arredores da cidade. Tão logo Maria da Fé, ficou sabendo do namoro, criou coragem, tomou a liderança e foi falar com a professorinha, avisando sobre o moço, que nada tinha de 'bom moço'-, era um papa virgem! Filho mimado de seo Ludovico que ensinou ao filho, como se tira um cabaço de donzela. De nada adiantava os lamentos de dona Candoca, o filho seguia fazendo alegria do pai: "mulher é igual cabrita, gosta de ser fodida". Mas a professorinha estava cega de amor e não deu ouvido e foi dizendo: -Comigo vai ser diferente, vai ter que casar! E o namoro continuou e tudo foi preparado para o casamento dos dois, que seria na próxima festa do santo casamenteiro, e assim foi. Ela de véu e grinalda, cheirando a flor de laranjeira. Ele num terno cinza de risca de giz, impecavel até no brilho dos sapatos, esperou por ela no altar. Contrariando os bons costumes, a noiva entrou sozinha, já que não tinha nenhum parente pra fazer as honras e entregá-la no altar. Padre Olavo reclamou, resmungou e acabou aceitando a modernidade. Festa das boas, muita comilança, bebida e muita música até a despedida dos noivos, que aos beijos, seguiram pra lua de mel. Redclif estava afoito, passou um ano inteiro tentando uma bolinadinha, uma mão boba, mas a professorinha incisiva:"Só depois de casada!" -, e assim foi. Na lua de mel, a professorinha teve mais orgasmos que estrelas no céu. A paixão e amor só aumentou e de noite o feitiço do amor era na base de beijo e muita gemeção. Dois anos se passaram. A vida da professorinha já não era o mar de rosas -, Redclif saia todas as noites com os amigos, indo jogar um carteado, uma sinuca ou mesmo tomar umas doses de Rabo de Galo num boteco da periferia, de onde sempre saia acompanhado de alguma moleca espevitada e disposta a servir de cabrita gemedeira, sempre de quatro no banco de trás do carro estacionado em lugar ermo. Depois de muita safadeza, Redclif deixava a cabritinha mamadeira no mesmo boteco e voltava para casa altas horas da madrugada, sempre com cheiro de perfume barato, manchas de batom e as costas arranhadas. Se deitava ao lado da mulher sem se preocupar com maiores explicações. A professorinha estava 'prenha' e cheia de vontades de comer pepino com geléia, jaca, chupar limão, roer caco de telha e outras coisas mais. Redclif estava sem saco pra tanta falação de mulher buchuda, já que estava de olho em Melinda, a filha do alfaiate que fez o seu terno de risca de giz. Menina nova, magrinha, corpo bem feito, seios durinhos sempre soltos dentro da blusinha de alça, a cinturinha fina, a bunda empinada, as coxas grossas e o andar espremido de menina virgem doidinha pra gozar. Não se fez de rogado e espichou a conversa, cercou pra lá e pra cá, até que Melinda aceitou as flores, bombons, perfumes e acabou nua dentro do carro, gemendo igual gata no cio e arranhando as costas de Redclif. Em casa, a professorinha, prepara o banho do marido e percebe os arranhões, as mordidas e chupões pelo pescoço. Ela não falou uma palavra sequer, mas também não pregou os olhos e quando Redclif acordou, não encontrou a mulher, procurou pela casa toda e não a encontrou. Foi até a casa dos pais e nada sabiam sobre o paradeiro da professorinha. Nas ruas, na igreja, na padaria, ninguém sou dar uma informação sequer. Dois dias se pasaram e até Mané polícia foi acionado para fazer as buscas pelas redondezas e as beatas de padre Olavo já estavam nas orações. Na manhã do terceiro dia, um táxi vindo da capital, parou em frente ao portão da casa de Redclif e a professorinha, desceu, ainda mais barriguda que antes. Foi uma falação sem fim! Todos querendo uma explicação e ela nada -, nem ai! Depois dos ânimos calmos, ela avisou ao marido, que durante a noite, recebera uma ligação avisando da morte súbita de um parente distante e que herdou uma casa numa cidade próxima. Disse que gostaria ir com ele, passar uns dias, antes do filho nascer, seria igual na lua de mel - só os dois. Redclif não pareceu entusiasmado, mas quando ela sussurou em seu ouvido: "Se você for, eu deixo você me foder por tras igual uma cadela no cio"-, ao ouvir essas palavras, ele teve uma ereção! Aceitou na hora e partiram em viagem ao final do dia, mesmo sob os protestos de dona Candoca e das beatas, alegando que mulher prenha não pode sair por ai sem paradeiro porque isso faz a criança virar e dificulta o parto. Durante a viagem, ela foi bolinando o marido a ponto do seu pênis latejar. Ele se deixava levar pelos pensamentos, afinal, teria o seu prêmio tão cobiçado desde que bateu os olhos na professorinha. Já era noite quando chegaram a tal casa, um velho sobrado com vários quartos e uma sala ampla, uma boa cozinha, banheiros, um sótão e um porão que certamente cheirava a mofo. Afastada da cidade, não tinha vizinhos por perto. Parecia uma velha casa abandonada não fosse pela luz acesa. Redclif levou a única mala que trouxeram e também uma grande cesta com as coisas para o lanche da noite. Enquanto Redclif leva a mala pra o quarto, a professorinha arruma a mesa com bolos, sucos e sanduíches e serviu o marido varios copos de suco e muito carinho. Deram risadas e ele falou sobre o que fariam logo mais e como ela ia gozar e gemer feito uma cadela vadia. Ela sorriu. Ele sentiu uma comichão que começou no pênis e foi subindo pelo corpo todo, um torpor. Sentiu a boca amarga e seca, quis tomar mais um pouco de suco e não conseguiu segurar o copo. Tentou ficar em pé, mas as pernas não sustentaram o peso do corpo. Caído no chão, Redclif olhou para a professorinha-, ela sorriu! Ele não consegue se levantar, braços e pernas não obedecem. Sua cabeça lateja, sua visão embaçada e a boca seca. - Sua cadela, o que você fez?! Eu vou acabar com você, sua vadia! Sem dizer uma só palavra, a professorinha se levanta, vai até o sofá onde deixou a bolsa e volta com um rolo de fita adesiva. Ajoelha-se ao lado do marido e calmamente coloca a fita sobre a boca de Redclif dando varias voltas em torno da cabeça o impedindo de gritar os palavrões e ameças. Ainda sorrindo, ela junta as mãos do marido e prende os pulsos com várias voltas de fita adesiva fazendo a mesma coisa nos tornozelos, tirando sapatos dele, o cinto, o relógio e a aliança e guardando junto com a fita, na bolsa. Caminhando lentamente, ela passa junto ao marido, que ainda se debate parecendo um verme, tentando inutilmente gritar. Ela vai até a porta que leva ao porão, abre, acende a lampada. Volta até Redclif e ainda sorrindo, olha direto em seus olhos e percebe que ele esta apavorado. Ela o segura pelos pés e começa a puxá-lo. Precisa fazer muita força, pois além do peso do marido, a sua barriga a impede de movimentos rapidos. Ao final de alguns minutos e muita força, Redclif está deitado no piso frio do porão. A luz fraca e amarelada, quase não o deixa ver nada ao redor a não ser que a janela esta pregada com tábuas. Redclif se debate, as pernas e os braços não reagem e sua cabeça lateja. O medo toma conta do seu corpo, ele tem um unico pensamento: Ela vai me matar! Em pânico se lembra que não contou aos pais pra onde iam em lua de mel. Ninguém sabe onde estão. Nesse instante a professorinha se ajoelha e beija a boca do marido, mesmo por cima da fita adesiva. -'Você vai ficar em boa companhia!' Ele se debate e sem poder falar nada, vê a mulher se levantar e sair do porão, subindo as escadas bem devagar. Ela apaga a luz e ele ouve a porta se fechar. Tudo é silêncio. Um escuro profundo como o pavor que se apossa dos seus pensamentos. Ele tenta respirar auele negrume enquanto as lágrimas correm pelos cantos dos seus olhos. O ronco do motor do carro chega aos seus ouvidos, ele compreende que ela esta indo embora, mas ainda tem um pensamento abestalhado pelo medo: Ela está me dando um susto, vai ver descobriu sobre a cabritinha e está me dando um corretivo. É isso!Ela vai voltar, ela me ama! O carro se afasta e tudo volta a ser um silêncio negro. Algo faz barulho no porão. Redclif sente o coração acelerado no peito. Continua a ouvir algo se arrastando no canto embaixo da escada. O pavor toma conta do seu corpo. De todos os poros vaza um suor de medo, a urina e as fezes escorrem quando Redclif sente a presença do imenso réptil ao seu lado, farejando o seu medo - uma anaconda. Redclif fecha os olhos... O dia amanhece em Viradouro, uma pequena cidade muito distante de Areia Branca, onde uma mulher que mais parece um anjo, dá à luz uma criança que nasce sorrindo.


*imagem: Google

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