Amor da terra
Teresa é de ´29. Alguns achaques da idade, não lhe achacam a vaidade. Sob grossas meias na fria manhã pitanguiense açula fetishes ao se referir ao sucesso de seus pés 35, bem feitinhos.
Na fluidez de seu falar, emergem, em torrente, fartos fatos de sua trajetória de quase 9 décadas de animada existência. Se a vesícula a incomoda vez por outra, as unhas e o cabelo bem tratados, divertem-na, e entram suavemente em seu profuso e difuso discurso.
Chegou em ´47 ao Belo Horizonte, empurrada pela lindeza. Colocação não lhe foi difícil obter. Pajeou crianças dum deputado, e serviu JK na mesa de seu carteado. A praça Raul Soares, ainda com aqueles jardins manicurizados era sua referência mais próxima. O escurinho do Cine Candelária foi motivador e testemunho de seus suspiros.
Os filhos vieram na sequência lógica duma natureza ousada mas concertada. E sem retornar à sua Bom Despacho, fixou-se na vizinha Pitangui, cuidando de seus teréns, que não lhe maculavam a lindeza.
O companheiro apaixonado rasgou e queimou a parte de sonhos de seu passado. Entregou-se Teresa à realidade do amar sem se comprometer. Sub-meter? Só por minutos contados.
Hoje, resta única de uma irmandade de mais de dúzia. Não tem veleidades de viajar mundafora, mas por qualquer nada fala sem falha do mundo que foi seu. E que nem o ouro dum Juca Ourives a convenceu.
O semi-decote insinua contornos que nove décadas não driblam, nem derribam.