A Nudez Está em Jogo

Havia, em uma floresta, tão distante da sociedade e tão escondida, uma família de agricultores que não conhecia outro tipo de alimento a não ser os frutos das árvores e os grãos que eles mesmos plantavam ao redor de sua propriedade. Viviam naturalmente nus, passavam grande parte do dia banhando-se nas águas do rio e eram contemplados com a dádiva do

ar puro, das ervas do campo e, por terem esse regime saudável de vida, desconheciam completamente o que era doença. Os cinco filhos do casal eram belos e fortes. Viviam, assim, plenamente felizes os seus dias até que, excursionando pela mata, um grupo de cientistas se deteve diante da casa e resolveu conhecer melhor os seus habitantes. Contaram-lhe, os pais das crianças, que eram originários da Escandinávia e sempre tiveram por sonho conhecer terras distantes e estudar os hábitos de vida de outros povos. Mas, após sofrerem um acidente com o barco em que navegavam, vieram parar ali e se apaixonaram a tal ponto pela região que decidiram ficar, levando o tipo de vida mais natural que lhes fosse possível. Ao serem perguntados porque estavam sem roupa responderam que, para eles, era a coisa mais natural do mundo e que seus filhos, que nunca haviam visto uma peça de vestuário, muito estranhavam o fato de verem pessoas com o corpo todo coberto.

Uma das filhas do casal, a mais velha, era de uma beleza esfuziante e chamou a atenção do chefe da expedição. Este, ao ver o corpo escultural da menina, no auge dos seus dezesseis anos, não se conteve de paixão e pediu permissão ao pai para que se tornasse seu namorado. A moça, há muito, desejosa de conhecer alguém que a fizesse namorada e em seguida esposa, aceitou de imediato. Ele era um rapaz bonito, muito trabalhador e um líder responsável e amado por todos os seus subordinados. Precisava, no entanto, terminar seus estudos e, somente após se encontrar estabilizado assumiria esse compromisso, pois desejava dar a sua amada uma vida alegre e confortável. Ele voltava com frequência àquela casa longínqua, perdida dentro da mata e, ao retornar para a realidade de sua vida, junto à civilização estressante e exigente, morria de tristeza por ter que deixar, semanas à fio, o seu grande amor. Os poucos dias que ali passava eram inesquecíveis; como se vivesse em pleno paraíso de paz e felicidade.

- Fico imaginando o dia em que for com você morar na cidade grande. Como vou me acostumar com o tipo de vida que vocês levam? Não sei se vou conseguir usar esses panos que usam em cima do corpo. Não sei o que será de mim.

- Não precisa se preocupar com isso. Como não posso viver aqui, pois é lá que tenho o meu trabalho que me sustenta e à minha família, vou encontrar um local especial para nós, onde os hábitos nocivos da civilização não causem nenhum mal a você, meu amor.

Assim ele prometeu e assim cumpriu. Economizou bastante durante alguns anos e adquiriu, em uma parte afastada da grande cidade, uma vila suntuosa e aconchegante, cercada de lagos naturais e natureza por todos os lados. Casaram-se e para lá se mudaram. Viviam assim, felizes a sua união. Parece que haviam nascido um para o outro. Ela porém, não conseguia se livrar de certos hábitos que sempre a acompanharam, dentre eles o de andar naturalmente nua, como se fosse isso uma atitude absolutamente normal. Frequentemente saia para nadar no lago, estender peças no varal e cuidar das plantas que enfeitavam o belo jardim da propriedade, totalmente sem roupas, sem se importar com os possíveis olhares, pois, na verdade, não maldava nem um pouco essa sua atitude.

Não havia muitas casas e era raro o movimento de gente.

O morador de uma das poucas casas, nas caminhadas que costumava fazer para se exercitar, não se cansava de contemplar a beleza escultural daquela mulher incomum. Durante as conversas não resistiu às promessas daquele senhor de dar a ela uma vida muito mais rica e esplendorosa do que aquela que levava, tendo que lavar roupas e cuidar de casa e de jardim. Disse que teria muitos empregados que fariam isso em seu lugar por ser ele muito rico e influente. E que viveria seus dias viajando pelo mundo, conhecendo povos, culturas diferentes e gastando o seu dinheiro em todos os luxos que desejasse.

- Vou ter que andar vestida como vocês? - ela perguntou.

- Bem, é preciso se comportar de acordo com os costumes da sociedade

- ele respondeu meio sem jeito.

- Então, nada feito. Quero ser quem eu sou. Do contrário, prefiro continuar por aqui.

Tanto ele insistiu e fortaleceu suas promessas e o tipo de vida que ela teria, que ela aceitou e foi para a casa desse homem e, após uma noite de muitas carícias ele a levou para bem longe e a instalou em uma mansão repleta de luxo, com mordomo, empregados, satisfazendo, assim, todas as suas vontades. Mas, como não conseguia se acostumar, como todas as pessoas, a se cobrir de roupas, era vista, com muita frequência, passeando pela enorme casa, pelos jardins e pelas redondezas da forma que viera ao mundo, ou seja, nua dos pés à cabeça.

O jovem esposo passava seus dias triste, totalmente arrasado pelo sumiço de sua adorável mulher e de tudo fez para encontrá-la, sem nenhum sucesso. Os pais da moça, ao saberem do acontecido choraram amargamente e suplicaram ao jovem que fizesse de tudo para encontrar sua filha. Ele prometeu que a encontraria nem que fosse preciso correr, de ponta a ponta, o mundo inteiro.

Por mais que o rico senhor insistisse com ela para que não andasse sem roupas, não era atendido, chegando ao ponto de ter que prendê-la para que nenhuma desgraça lhe acontecesse. Após amargar dias tristes e penosos por não ter cumprida a promessa de andar nua, que é como sempre vivera, na primeira oportunidade, ela fugiu. Atravessou cidades, pedindo carona, prostituindo-se para ter o que comer, viu-se presa por atentado ao pudor e à moral pública até que, no auge do sofrimento, foi finalmente encontrada pelo marido apaixonado que, após muito pedir e anunciar, levou-a para casa, abatida, magra e, pela primeira vez sentindo a dor da doença e do sofrimento.

Retomaram a vida de antes e ela, vendo fidelidade e afeição naquele que lutara e sofrera por seu amor, readquiriu a beleza e a alegria que sempre tivera. Mas, para não terem que passar novamente por tudo que lhes fizera sofrer, ele atendeu-lhe um pedido especial, e o fez com alegria, porque ser feliz ao lado dela era tudo que ele queria.

Voltaram então à vida de antes, no lugar em que a conhecera, junto aos que ela amava. Ali, sem medo, sem traições e, o que ela mais queria acima de tudo, sem roupas e sem constrangimento, tiveram filhos e viveram felizes até o fim de suas vidas.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 01/07/2016
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