Da Janela para Dentro
(Bisonhamente inspirado em um caso real)
Rafaela dormia com a janela do quarto aberta. Numa manhã acordou sentindo dores no ouvido direito. Ela apenas pingou algumas gotas de Lidosporin no local e nada além. No dia seguinte a aflição intensificou-se e só então a jovem resolveu ir à clínica de pronto-socorro.
O médico deu uma simples olhadinha no lugar afetado e falou que tratava-se somente de uma pequena inflamação. Ele a passou uma injeção de Benzetacil e um remedinho para pingar no ouvido.
Rafaela voltou para casa, mas a dor persistia aumentando. Era exorbitante e tornou-se insuportável. A jovem desmaiou na cama e acordou alucinada. Ela parecia estar enxergando as larvas corroerem o seu cérebro.
Isto era inusitado! Como pode perceber desta maneira algo que nem o qualificado profissional da saúde foi capaz de notar com sua análise?!
Rafaela, em seu delírio, desfrutava uma certa medida de prazer em volto daquela mesma agonia com as criaturinhas a devorando por dentro. Ela remexia-se e sacudia a cabeça, cantando uma bizarra e mórbida musiquinha assim:
"Larvinhas que corroem e aqui por dentro fazem caminho
Desçam mais um pouco e vem roer meu furinguinho"
As larvas assimilaram o pedido e foram descendo através do corpo dela, consumindo sua carne e degustando suas entranhas até chegarem no reto. Enquanto isto, outros insetos semelhantes entraram pela janela e depositaram mais ovos em Rafaela, que gemia loucamente com aquele misto de prazer e dor, ao servir o próprio corpo como banquete para os pequenos filhos da natureza que o desentegravam, deixando apenas o esqueleto e os cabelos intactos.
As larvas ali desenvolveram-se e tornaram-se belas moscas à procura de mais uma janela aberta.