As camas Patente
Para embalarem nossos sonhos, as camas Patente chegaram ao Brumado, naquele cada vez mais longínquo 1956. Ou foi 57? Formavam um par. Encomendadas por papai em Belo Horizonte, chegaram de trem, desmontadas, à estaçãozinha da Rede Mineira de Viação num finzinho de tarde. Tarde seca, fresquinha, e, sem que mamãe pudesse testemunhar a cena, pois ela havia pego o segundo turno da fábrica às seis da tarde, nos aprestamos para ajudar papai naquela tarefa de transportar as peças nuinhas da silva para nossa casa.
Duas subidinhas duns duzentos métros, e a reta - triunfal - para a chegada - informalmente, rua do Quenta-Sol. O chão de terra e pidriguio pouco incomodava. Naquela circunstância, a gente como que levitava.
E o povoado todo admirando, e vai ver até que invejando, aquela nossa façanha de renovação, a percorrer o povoado, como uma solene, mas garrida procissão. E tudo parecia tão levinho, em contraste com os pesados e desajeitados catres em processo sumário de impeachment.
Vicky e Bebel numa, eu e Beu noutra. A noção de beliche, naquela ainda tenra e terna infância era ainda horizontal. E os colchões eram de capim. Mas faziam a diferença as molas da cama. E seu madeirame era liso, arredondado e dum marrom claro envernizado. Cabeceira, corpo e pés e tudo se encaixava numa perfeição sob as industriosas mãos de papai e o olhar admirado de tia Vicentina, que em tudo punha sentido - e aprovava.
Mamãe é que só chegaria depois das dez, depois de nossa farra. Mas pé ante pé examinava e acariciava aquelas belezuras - camas e nós fundidos - belamente adormecidos.