Entre Invernos

Pessoas passavam, o sol se abria, a chuva por vezes escorria, me mantenho paralisado, observando todo aquele movimento diário, cada movimento, é página folheada de minha angústia, pois ali até as árvores moviam-se com o soprar dos ventos, e eu, continuava estático, nem um movimento sequer! O sol queimava-me, a chuva encharcava minha cabeça, o vento trazia consigo um frio incomum, tenebroso! As noites, ahh essas eram constantemente assustadoras, o vento frio gritava em meu ouvido e cortava minha pele, eu podia sentir! Pela manhã descobria uma nova agitação, e pastava a ser pisoteado sem perdão algum. Minha vida enfim, era uma calamidade pública! Que vida? Bom, ainda assim, me lembrava daqueles tempos da juventude, eu era novo, forte, havia mais compaixão, as árvores eram muito mais radiantes e vivas! A movimentação das pessoas era leve, passos serenos, ouvia-se mais vozes, ou melhor se ouvia vozes, diálogos mais descompromissados... ahhh bons tempos! Lembro-me até de uma paquera que eu tinha do outro lado da praça. Eu era um romântico parado, observando o amor passar, amadurecer e morrer. As coisas começaram a ficar escuras quando a levaram, foi o meu pior dia ali, afinal, o que eu poderia fazer? Todos temos o nosso dia! Hoje até que me carregaram carinhosamente, posso dizer que sou privilegiado, pois há aqueles que são muito maltratados depois de ter passado uma vida assim, como a minha, nossa trajetória não difere muito. Acho que estão chegando, minha agonia vai amenizando agora, acho que por fim, valeu a pena, para um pedaço de madeira envernizado até que foi bom! Será que assim também é com as pessoas? Eles parecem tão secos.

Henrique L
Enviado por Henrique L em 25/05/2016
Reeditado em 26/05/2016
Código do texto: T5646154
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