Uma História Ao Avesso
Era um mundo ao avesso este que em uma época diferente dona Lucinda com seus sessenta e poucos anos com as primeiras rugas já visíveis e a pele escura era dona de uma importante terra, ela balança um sininho e sua escrava entra em seu amplo quarto, com a cabeça baixa, a moça com seus dezessete anos de pele clara diz
— o que a senhora deseja?— ela fala em um fio de voz
— que você fosse menos desprezível — a velha diz, com um rancor imensurável
A garota já acostumada, continua com a cabeça baixa e espera o mal humor matinal ou melhor constante de sua senhora passar.
Então ela pigarreia e pede seu cardápio de todos os dias, ele era amplo e ela nunca comia ao menos metade então jogava o resto fora enquanto seus escravos muitas vezes passavam fome.
A moça sai do quarto traumatizada como todos os dias com as ofensas constantes, e apesar de todos os maus tratos que sofriam psicologicamente tinham sorte porque ao menos não sentiam dor, os brancos das outras terras eram chicoteados e abusados sexualmente por seus donos, as vezes antes de dormir ela escutava os gritos que os ventos traziam de longe.
Era um ritmo constante o de suas vidas eles trabalhavam, comiam, trabalhavam e trabalhavam dormiam e acordavam antes do sol nascer, não havia felicidade ali para eles, os mais corajosos fugiam e nunca mais se ouvia falar deles, as vezes surgiam se boatos que eles foram para um lugar melhor ou simplesmente morreram.
Apesar de tudo a moça não guardava rancor e sonhava todas as noites em um mundo em que fosse livre, em que todos fossem livres, que não houvesse preconceito, então todos seriam felizes.
Ela pensava em como as coisas chegaram a ser assim, porque julgar alguém por sua cor, todos eram iguais por dentro afinal, ela não entendia isso talvez nunca fosse entender, mas sonhava que as coisas mudassem, e se um dia houvesse uma revolução, uma luta por direitos iguais, ela iria participar, iria lutar.