O COMÍCIO
O COMÍCIO
Odilon Barreto é um senhor simpático já com seus 90 anos, porém sóbrio, e mestre no contar de causos antigos.
Mudou-se para perto do bar-do-Juca e por isso nos encontramos todas as noites para ruminar umas pingas da terra e enquanto isso vamos relembrando os contos do passado onde selecionei um que abaixo tento reproduzir.
“ Na localidade de Cana-Brava, um certo dia apareceu um nordestino para trabalhar nas fazendas da redondezas. Ninguém sabia ao certo de onde vinha, contudo era trabalhador e gostava muito de festas e por esses atributos os fazendeiros do local iam suportando sua presença dando-lhe empreitas moradia e alimentação.
Em outubro estava a realizar um comício na localidade da Cana-Brava. O nordestino viu nisto uma oportunidade de participar duma festa onde dançaria e quem sabe, talvez, fisgasse uma cabocla para um namoro promissor.
Como não tinha montaria, pediu ao patrão um animal emprestado para ir festar. O patrão , que não via com bons olhos o forasteiro, com medo de que ele debandasse com o animal e arreios, emprestou somente uma égua velha, troncha e capenga que já não servia para quase nada e como arreios , cedeu um bacheiro aos trapos.
Mesmo assim o nordestino ficou satisfeito e agradecido. Pegou a égua no pasto e como não lhe foi dado cabresto, improvisou um cipó de tripa-de-galinha.
Pegou a égua, passou o cipó na cabeça do animal, colocou o baxeiro velho, vestiu sua melhor roupa, passou um perfume antigo”tabu” nos suvacos e saiu garboso tal qual Dom Quixote em direção ao comício.
Durante o trajeto, como tinha dado uma chuvinha a noite, a estrada estava cheia de possinhas d’água, e a égua com seu rabão peludo, de vez em quando molhava-o nas poças e subindo o mesmo respingava lama na roupa gomada do cavaleiro. Incomodado com isso o nordestino pegou outro cipó e amarrou o rabo da égua, de forma que o rabo do animal ficava por debaixo do seu braço esquerdo e animal ficava de certa forma e exibir suas vergonhas.
Depois de ter andado umas três léguas adentrou no povoado. Como não sabia o local da festa, e já ansioso para cair na farra, foi perguntando um magote de pessoas a porta de um bar: ONDE É QUE É O COMIÇO ?. Os moradores do local, vendo aquele aranzé, a égua marrada de cipó e o cidadão, com o rabo do animal suspendido numa posição suspeita e com a malícia própria dos desconfiados entenderam a pergunta assim:
“ONDE É QUE EU COMO ISSO’, . Revoltados apearam o cavalheiro, deram-lhe uma surra, soltaram a égua e o expulsaram da localidade, aos gritos, “Vá te danar tarado duma figa”.
O nordestino voltou cabisbaixo e a pé , resmungando”VOU ME EMBORA DESSA TERRA, PORQUE A PÓLÍTICA AQUI É DE LASCAR’.
Laerte rocha.
03.04.2016.