A Gaveta

A chuva molhava tudo que podia, suas gotas eram capazes de moverem cada folha de cada planta. Aquela casa sem andar e acinzentada apenas possuía cor da área externa por conta das flores de seus vizinhos. Na varanda Cláudio já podia ouvir o batido da sua bengala no piso de madeira, ele havia se acostumado com o barulho cujo sua amiga jovem produzia.

-Cláudio, o que te traz aqui nesse dia horrível?

Quando Clara adentrou na varanda deu-se por surpresa com o segundo homem, que estava sentado bebendo chá, então ela não esperou resposta e continuou.

-Ora ora, talvez a questão seja o que esse desgraçado faz aqui contigo?!

Cláudio a fitou nos olhos abriu seu guarda chuva e disse: - Amigo não é aquele que só passa a mão na cabeça, é também aquele que aponta o seu erro e demonstra o caminho para consertá-lo.

Sem demora ele olhou para Roberto e saiu apressado. O silêncio entre os presentes reinou por tempos, aquela surpresa ainda estava sendo digerida. Cansada, Clara sentou, assoprou forte, mas recusou pegar um dos maravilhosos chás do Cláudio. Ela pensou que seria mais gostoso cair de uma escada do que estar naquela varanda.

-Clara, eu te devo uma explicação.

Ela preferia não dar atenção, estava com raiva, cara fechada, cheia de ouvir as pessoas e suas desculpas.

-Eu fui um idiota, ser seu marido foi a melhor coisa que me aconteceu.

-Roberto, não vejo necessidade de você vir aqui 12 anos depois para repetir tais palavras. Faça o favor de sair. Agora!

-Não! Não vou sair antes de você me escutar. Hoje vim como parceiro, para te ajudar.

-Estou ótima, agora...

-PARA! Não interrompe! Eu fui infiel, mas eu não vim para pedir um retorno. Chega, faça algo por si mesma, a não ser andar por aí com essa bengala. Depois de mim, você perdeu amigos, perdeu momentos e tudo que soube fazer foi segurar cada lágrima, todos os dias. Agora posso contar, seu ex namorado ameaçou te matar caso eu não te traísse com aquela prostituta, agora ele morreu e eu posso te contar sem medo.

Ela se levantou rapidamente e questionou.

- O QUÊ? Você me traiu para me proteger? História, apenas história. Mentira!

-Acredite no que preferir, pelo visto não posso mudar nada. Você carregou brutalidades ao invés de entendê-las. Ir para festas e encontros sabendo que não você estava pelo fato de sempre brigar com seus amigos.

-Chega!

Ela voltou a sentar, enrijeceu os lábios e olhava com lágrimas. Sentia cada palavra e disse: - Você fudeu com a minha vida.

-Sinto muito, mas essa já foi uma escolha que fez para si.

Ela virou-lhe as costas, olhou para a chuva e corroía-se por dentro.

-Clara você não deveria ter desfeito coisas por causa de apenas um motivo. Perdoe a si mesma, irei te ajudar com nossos amigos, pense e diga-me algo.

Ele não sabia o que seu rosto estava expressando. O silêncio reinou novamente entre eles. Ela estava de costas, com pele seca, cabelos quebradiços e junta a sua bengala. Só pode dizer algo.

-Senti a falta de vocês.

Talvez ela nunca entendesse o motivo de sua perna ter começado a melhorar.

Matheus Andrade de Moraes
Enviado por Matheus Andrade de Moraes em 08/03/2016
Reeditado em 25/06/2016
Código do texto: T5567950
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