Um Olhar a Deriva            
Capítulo V

                                        
 Deus foi embora?
 
Quando a noite caiu sobre a cidade, esta não estava de toda escura, uma enorme nuvem que desfilava ao sabor das correntes de ar, cobriu a cercania com sua sombra. As lâmpadas foram acendendo. Uma aqui, outra acolá, a nuvem se foi, mas a sombra não. Nem todas as lâmpadas estavam ardendo. Depois que todas as lâmpadas estavam a alumiar a cidade, a escuridão da noite descansou acima dos postes de luzes da cidade. O nada cheio de lulezinhas surgiu.

A cidade parecia a mesma de 23 anos atrás, as ruas, as casas, o colégio com dona Lurdinha distribuindo reguadas a torto e a direito na meninada. O boteco Assim-assim do senhor Ludovico, que ficava da rua do Comendador das Flores pertinho da viela Cai-Cai, continuava o mesmo.

Antigamente o boteco era do senhor Anaécio, o nome do boteco era bar do Narizinho, Passou para Assim-assim só depois que o senhor Ludovico comprou. A radiopatrulha começou a passar na porta do boteco do Narizinho com frequência, logo começaram os fuxicos, uma falação danada. No final de piada as coisas tornaram-se sérias. Sempre que o bar do Narizinho era tema nas rodas de bate papo, as pessoas diziam: – É! Lá no Narizinho tem um pôblema sério.

O senhor Anaécio, foi morar na capital. O senhor Ludovico de tanto explicar como as coisas ocorreram repetindo assim-assim, o bar ficou com o nome de Assim-assim. O dono do bar, senhor Ludovico, pediu para Tonisvaldo, um letreiro da região, pintar o nome na parede, e acabou virando uma tremenda de uma piada. Não é que o letreiro errou e escreveu, Ahssim-ahssim. E ficou ahssim mesmo.

Passional estava de volta a cidade natal em definitivo. Foram alguns anos indo e vindo da cidade de Perobinha. Os estudos mantinha-o mais em Perobinha do que na casa da mãe. A cidade continuava igual, mas e ele? Ele não! Alto, forte como um estivador, roupas boas, bom de prosa e doutor nas leis. É! Isso mesmo, advogado, com anel, gravata, sapato de couro, o homem agora andava nos trinques!

Passional entrou no bar, cumprimentou o pessoal, para alguns estranhos ele apenas os cumprimentavam declinando com a cabeça, com outros levantava um dos braços e os saudavam timidamente, com os conhecidos, cumprimentavam-os efusivamente. O balcão do bar como sempre, tábua corrida, sem verniz e sempre com um pouco de umidade deixado pelo pano de limpeza. As mesas e as cadeiras eram de madeira em treliça. Os frequentadores eram variados, quase nenhum cachaceiro. Um pessoal tranquilo, porém observador.

Sentado na última mesa do bar, com a cadeira junto a parede já castigada pelo tempo, quando ajeitava-se na cadeira encostando-a na parede, caía beijus de tinta. Uma parede que foi verde, agora parece uma colcha de retalhos de cores verde, quase verde, marrom e marrom clarin.

O bar era alumiado como dantes. No canto direito uma luz embrulhada em papel-celofane azul-piscina, no centro a lâmpada ficava dentro de um cone esmaltado e em cima do balcão várias lâmpadas iguais de natal, pequeninas, brancas e sempre limpas, umas oito, bem alinhada com o balcão.

Passional observava as pessoas, seus humores e trejeitos. Um contorcia-se todo para se fazer entendido, outro sem as mãos não diria uma palavra. Um terceiro, que a inteligência era tão admirada quanto suas caretas.

Por volta das nove horas Oscar Alho das Lamas chegou no bar, viu Passional. Antes de cumprimentá-lo esse o convidou-o para dividir a mesa. Oscar era muito querido por Passional, oito anos mais velho do que ele, sempre se deram muito bem. Oscar usava uma camisa de linho branco, calça preta, cinto branco e sapatos brancos com detalhes em preto envernizado.

Trocaram um forte aperto de mãos e palavras de pura saudades. Conversaram bastante, assim como beberam, até que, preparado o terreno, Passional falou:


– Oh Oscar, você sempre gostou de ideias novas, certo?
– Certo! O que você traz para essa noite? Perguntou a Passional.
– Você já pensou na seguinte hipótese: Deus criou tudo que nós conhecemos e depois foi embora?

Assuntos à meia-noite, geralmente assustam. Faltava pouco para a zero hora; e se, é a zero hora que começa a contar, a pergunta de Passional zerou as conversas de todos que estavam no bar!

É uma contradição, mas o impossível tornou-se possível, no bar havia católicos, evangélicos, até judeus. Todos ouviram a pergunta de Passional à Oscar, os religiosos mantiveram-se em paz nos seus lugares; afinal, não houve a negação da existência de Deus, apenas uma possibilidade dele não estar conosco.


– Mas por que ele iria nos deixar? -- perguntou Oscar.
– Primeiro, acompanha meu raciocínio. Independente da briga entre a ciência e a religião uma coisa nós podemos afirmar, se criacionismo ou evolucionismo, uma coisa é fato, alguém criou, ou esse alguém iniciou o processo. Afinal o nada não tem elementos para produzir algo. Portanto um ser ou um ente ou um Deus, não importa, alguém iniciou tudo que temos a nossa volta, assim como nós, certo?
– Concordo, nada vem do nada, tudo bem, te acompanho. Mas e a pergunta, por que ele nos deixaria?

O consumo no boteco não caiu, pelo contrário, aumentou, naquele momento tudo poderia acontecer, pois o tema era de vida ou morte para muitos, todos continuaram fazendo pedidos para acompanhar o desfecho. Até um pároco que estava acompanhado por um mancebo, colocou a dose de lado e passou pra cerveja.


– Oscar, agora que você entendeu a primeira parte, me dirijo para a segunda. Vamos definir algo que é fundamental para você entender o porquê Deus não estaria entre nós.

Você concorda que todo ser humano é dotado de duas coisas que é belíssimo, que é entendimento e sensibilidade. Entendimento é a capacidade que todos nós seres humanos têm de questionar todas as coisas, o famoso por quê. E através da sensibilidade é que nós nos apaixonamos, apreciamos a beleza, sentimos dor, calor, ou frio, portanto é através do entendimento que nos prevenimos de acidentes. – como assim? Cortou Oscar a explanação de Passional.


 – Veja Oscar, se você pisa em algo pontiagudo e machuca, você se cuida, mas depois, pensando sobre o acidente você observa que, estava descalço, não olhou onde estava pisando, coisas pontiagudas nos fere, certo?
– Certo, concordo, e aí?
– Com certeza você vai proteger seus pés, olhar onde anda, logo, você vai se prevenir, graças há? Ao entendimento, pois a razão é um conjunto de ferramentas de dedução, intuição, percepção de profundidade e outras que nós, seres humanos têm. Concorda?
– Por que a beleza está na sensibilidade? Muitas coisas são belas através de exemplos lógicos!
– Vamos então analisar um quadro. Uma tela de Rembrandt, pintada em 1632. A imagem ira lhe remeter a vários sentimentos que tenham co-relção com algo que se passou na sua vida ou na vida de pessoas que você conhece. A imagem remete o espectador para o passado, sensibiliza com a dinâmica da medicina na época e o sofrimento dos pacientes e de seus familiares. A beleza que é defendida pela lógica é a técnica do artista montar a imagem e reproduzi-la. Você discorda Oscar?
-- Então me dê um exemplo do amor? Por que às vezes as pessoas usam de lógica para relacionarem uma com as outras!.
-- Neste caso você está juntando fatos ocorridos com outros casais e fatos que às vezes você vivenciou. Diante de uma nova proposta de relacionamento, é feito uma avaliação, mesmo sendo um risco, você ou a pessoa assume correr, pois os sentimentos falam alto, todavia a razão sabe onde tudo pode acabar. A razão cede, a pessoa apenas aposta numa possível mudança durante o relacionamento. Entrementes caso dê errado, o entendimento há de lembrar te. Concorda?
-- Afinal Passional, você é advogado ou filósofo? Estudamos em faculdades diferentes, mas o curso é o mesmo. Que comichão é esse -- perguntou Oscar.
-- Estou apenas interessado num debate hummmm, diria existencial, entende?
-- Tudo bem, então antes de você terminar sua tese, pergunto-te o seguinte, Deus foi embora, mas e o destino e o livre-arbítrio, como fica, você pensou nisso?
--Oscar, é o seguinte, espere só um pouquinho.
--Oh senhor Ludovico, por favor, mais uma cerveja litrão, uma cachaça de Salinas, torresmo e limão.
-- Como ia lhe dizendo, o destino é coisa de Deus, não é coisa dos homens, por quê? Explico. O que tem que ser será, pois O homem lá em cima tudo sabe, certo! E ele não há de nos revelar, por quê? Porque ele foi embora e nós sabendo ou não, tudo acontecerá conforme o projeto dele, querendo ou não.

Mas e o livre-arbítrio. Neste assunto é o seguinte, usarei um exemplo para ficar claro. O homem nasce, cresce, fica bobo e casa! Isso é uma brincadeira. Vamos virar uma cachaça primeiro. O nosso destino já está decidido, mas não o conhecemos, então nós podemos escolher o caminho. Observa uma coisa. Um cidadão está no oitavo andar de um prédio ou edifício, como queira. Quantas possibilidades há para ele descer até o térreo?

-- Uhai Passional, ele pode descer pelas escadas, ou pelo elevador, se for um maluco vai de rapel mesmo. Respondeu Oscar.
-- Mas ele também pode se jogar do oitavo andar, vai descer também, num vai? Falou Passional.
-- Uhai! Mas aí ele vai morrer!
-- Problema dele, escolha dele, mas desceu, num desceu! Traçou o próprio caminho. Assim é o livre-arbítrio, você têm várias escolhas, vários caminhos,, pode ser, rua, avenida, autoestrada, com ou sem conforto, não importa, mas no final? Morre.
-- Então Passional, você quer dizer que, independentemente, como eu viver, o fim é um só! O que muda é apenas a paisagem, digamos de forma figurada, por melhor que o homem seja com as pessoas, não teria nenhuma compensação por isto, por mais justo que seja, nada muda.
-- Oh Oscar! Você está negociando com Deus! Ser bom agora, para depois se beneficiar. Você esqueceu! Deus não é um mercador. Tu esquecestes que ele é perfeito, onisciente e onipotente, ele já sabe de tudo. Agora posso lhe dizer porque Deus foi embora.
– Para o homem viver bem, ele só precisa fazer o bem para o outro, ser honesto  é a base de uma sociedade hormônica, para isto só precisamos de usar as ferramentas que já temos, razão, lógica, bom senso e compaixão com o próximo. Ser honesto não para que as pessoas sejam corretas conosco, além disso, uma questão de humanidade, e isto podemos desenvolver por meios dos nossos sentimentos e essa sensibilidade já trazemos conosco.

Mas se é tão simples assim, por que nós, a sociedade não faz isto? Perguntou Oscar.
– Porque primeiramente somos preguiçosos, acomodados, queremos sempre que alguém façam as coisas por nós. Vou lhe dar alguns exemplos:

1 – a religiosidade é algo inerente no ser humano, mas preferimos termos lideres religiosos em vez de nós mesmos agirmos religiosamente.

Espera um pouco! Você caiu em contradição! Se Deus foi embora, então pra que religiosidade? -- perguntou Oscar..
– Amigo! Primeiramente você precisar enxergar que não necessitamos de líderes religiosos, tipo, padres, pastores e por aí vai. Tudo que eles fazem é porque o cidadão prefere transferir responsabilidade para outros e não assumir suas próprias responsabilidades. Nossas necessidades só nos aparece na medida que podemos realizar.


É uma aberração alguém dizer que tem necessidade de ir à marte, o planeta vermelho. É possível? Sim, vá estudar! Mas querer de um dia para outro o ticket é brincadeira né! Pode parecer estranho esse último exemplo, mas só pensamos coisas possíveis, nossos pensamentos em relação às coisas que no passado era um sonho, hoje são realidades, por exemplo, o celular é a evolução do telefone fixo, graças  a evolução dos estudos de ondas curtas, as ondas de rádio. Lembra do capitão Kirk do seriado Jornada nas Estrelas, ele comunicava com pessoas que estavam na terra e a Enterprise estava no espaço, lembra né! Portanto quando pensar em Deus você pode conectar com ele diretamente, essa conexão é inerente em nós.

– Tudo bem, você deu algumas voltas, concordo em parte, mas quem tem o direito de usar da força física ou privar pessoas da sua liberdade quando prendemo-las nas cadeias? Entenda a questão liberdade enquanto uma decisão unicamente humana! Oscar ponderou.
– Colega! Quem caiu em contradição foi você agora. Veja bem, e é algo inerente ao nosso curso de Direito. Antes vamos primeiro beber um pouco. Senhor Ludovico, por favor, outra cerveja, mais que gelada, quero uma tipo canela de pedreiro, certo? Traz também uma cachaça pra nós e salame cortado em cubinhos, daquele jeito que só o senhor sabe, com pimenta do reino e sal grosso. Aliás traga duas cachaças, o Oscar está quase tremendo de vontade.

Passional percebeu que todas as pessoas que estavam no bar, esperavam pela resposta quanto a liberdade, olhou para o padre, para um pastor que chegara meia hora depois de Oscar e Passional iniciar a conversa sobre questões divinas, mas o pastor foi colocado a par do assunto, e o mais indignado era o judeu. O grande problema para eles, os religiosos, era que Deus por ser onipotente, onisciente pode fazer o que bem-querer, inclusive permitir essas prosas.

Oscar, é o seguinte, o único ser livre neste planeta é o homem, todos os animais são dotados de instintos, eles podem até serem inteligentes, mas para executar seus instintos, certo?

– Certo! -- concordou Oscar.

Portanto meu chapa, o homem criou ou inventou as leis porque é livre, não há instinto no homem para que ele crie leis, a razão, que é uma ferramenta humana, elabora ou elaborou, como você quiser, as leis. Entendimento e sensibilidade caminham juntas logicamente, a ideia de lei há de surgir devido ao bem comum que proporciona aos homens. Se a razão cria a ordem, a sensibilidade cria a harmonia.

Em uma tribo, há regras, que é a mesma coisa que uma lei. Entre bárbaros há regras, podem ser bárbaros nas guerras e nas lutas, entre eles há harmonia. Dentro das penitenciarias há regras entre os presos definidas entre eles. Portanto, podemos nos organizar sem a ajuda de Deus, pois ele nos equipou com as ferramentas necessárias.

– Se eu seguir o seu raciocínio, logo chegarei a possibilidade que Deus nos exigi que a gente deixe de ser irresponsável, ou saia da menor idade.  É isto Passional? Deduziu Oscar.

– Ele não exigi nada, somos livres, lembra!

Então faço outra pergunta: – e se houvesse a eternidade para o homem após sua morte terrena, o que ele faria sem Deus?
– Oscar meu filho! Por que essa necessidade doentia de ter um líder! Deus não quer bajuladores, mas amigos sem nada em troca, ele talvez tenha se cansado de nos esperar sermos mais humanos, mais responsáveis, olha o absurdo que chegou os homens, quando pensam em Deus é só pra reclamar, pedir, lamentar, agradecer com esperança de ganhar algo em troca. Quantas pessoas neste mundo bateria um papo com Deus sem lhe pedir nada, sem lamentar nada, apenas conversar, trocar boas risadas e seguir na vida sem pensar se há vida após a morte, viver fazendo o seu melhor para os outros e para si mesmo, já pensou alguém tomando um suco, ou refrigerante, sei lá o quê com Deus e trocando ideias apenas do dia-a-dia. Como nós às vezes fazemos, quando encontramos num bar e falamos de tudo, sem se preocupar se vamos nos ver no outro dia.

Oscar pegou o copo de cachaça e virou tudo de uma só vez, comeu o último pedaço de torresmo que havia na mesa, pegou uns pedaços de salames com o mesmo palito que pegara o torresmo. Enxugou a boca com a gola da camisa, olhou seu amigo minuciosamente, de cima abaixo, coçou a sombrancelha esquerda com os dedos da mão esquerda, com o mesmo palito que espetara, torresmo e salame, tirou um excesso que lhe em comodava entre os últimos dentes, aqueles lá do fundão, lambeu o palito discretamente. Esticou a perna direita tudo que podia, esfregava em círculos a cabeça com a mão direita. Encheu o copo de cachaça com cerveja e virou tudo, encarou o coleguinha e disse: – eu pensei que ia dormir na paz dos anjos, tranquilo como um bebé!

O silêncio no boteco podia ser ouvido a duas quadras de distância. Quando uns passos rasgou o véu do silêncio do bar; eram os religiosos aproximando-se da mesa de Passional e Oscar. O padre ao lado da mesa pediu educadamente para fazer uma pergunta.

– Claro, os senhores podem ficar à vontade, responderam-lhes.
O padre  aceitou sentar-se numa cadeira, o pastor esquivou-se e ficou atrás de Oscar, e o judeu ficou em pé de frente para Passional. O judeu abraçou com sua Torá junto ao peito, com sua quipá bem no centro da cabeça. O ele balançava o corpo para frente o tempo todo, curvava-se pouco para frente com as pernas retas e juntas e voltava a posição ereta do corpo, permaneceu assim até quando os três decidiram retornarem para a mesa deles.

O pároco então iniciou sua pergunta com uma voz muito firme e escolhendo bem as palavras, para que a clareza da pergunta não fosse prejudicada. Mantendo os dois cotovelos na mesa, mãos juntas com os dedos entrelaçados e com o polegar coçou a testa próxima a glabela, começou:

– Passional sei bem o quanto você é temente a Deus, sua inteligência lhe proporciona bons questionamentos sobre a existência humana. Não pretendo fazer afirmações de fé nem tentar ser ou lhe fazer uma pergunta que possa lhe embaraçar, longe disso. Dada as circunstâncias e o local em que estamos, não farei um discurso ou uma defesa, apenas uma pergunta, simples e sem qualquer outra intenção além da minha curiosidade. -Você acredita que os homens têm conhecimento, força, determinação e disciplina para viver de forma honesta e solidária numa sociedade como Deus planejou?

O padre apoiou as costas no encosto da cadeira, juntou os pés para debaixo da cadeira, com a mão esquerda segurou o antebraço direito perto da axila, com a mão direita apoiou o queixo mantendo a cabeça ereta, os olhos buscava um porto seguro, apesar que a direção do seu olhar varria toda a mesa, o pastor em pé com paletó verde-bandeira, camisa branca e gravata cinza com detalhes verde-musgo. Às vezes, fixava no judeu de sapato preto com barbante branco, calça preta, paletó preto, camisa de linho branco, gravata preta e seu quipá branco com as bordas em preto. O olhar do padre via quase tudo, menos Passional e Oscar.

Senhor Ludovico apareceu com um copo da marca nadir até a boca de cachaça, torresmos fritados na hora, dava pra ouvir os estalos da fervura da gordura, um quarto de queijo da Canastra já picado, sal grosso e uma tijelinha de tomates verdolengos cortados em rodela. O dono do boteco saiu a francesa, ou seja, de fininho.

O pastor não tirava os olhos de Oscar, com as mãos dentro dos bolsos da calça de tergal 55, estava convicto, Oscar é um irresponsável, dar ouvidos a um desarrazoado, um lunático, um sujeito que é dado a perequê. O judeu não falou nada, com seu balanço constante, assim como chegou às margens da mesa voltou. Chegou mudo e saiu calado.

Passional pensou em oferecer um pouco de cachaça aos três eminentes representantes, achou melhor não. Apesar de estarem reunidos num mesmo local, pensou que eles poderiam pensar que seria uma provocação, o que seria normal e educado por parte de Passional, afinal todos estavam  num boteco e que já passava das duas horas da madrugada. Passional pigarreou o último gole de cachaça, entornou meio copo de cerveja geladinha e respondeu, todavia com uma condição, a resposta teria que ser um sim ou um não, condição essa que o pároco aceitou.

– Padre, o senhor duvida dos planos de Deus para os homens? -- perguntou Passional.
– Não! Eu não duvido dos planos e respeito a vontade de Deus. Mas por que você acredita que Deus não está mais entre nós? --replicou o padre.
_ Pela mesma fé que o senhor defende que ele permanece e sempre permanecerá entre os homens  cuidado dos homens como criancinhas!

Oscar pediu dois copos de cachaça, brindou a noite com Passional e entornaram a cachaça até os copos estarem vazios, ao final do brinde perceberam que estavam sozinhos na mesa, assim como encontraram-se por volta das nove ou dez da noite, ou teria sido mais tarde!
 
 
 
 
 
           
 
 
        
 
Eder Rizotto
Enviado por Eder Rizotto em 19/02/2016
Reeditado em 23/02/2016
Código do texto: T5548652
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