Nebulosas areias e uma mulher com caganeira
Sorriam, seus bastardos. Eu dizia a mim mesma isso aí, sorria. Inacio e eu estávamos ali, de frente pra eles, os caras nos olhavam, e eu pensava, se eles sorrirem, a gente sorri também. Inacio tava barbudo, mal víamos seus lábios grossos. Ele não sorria. Sangue era dragado pela areia. Sangue de quem eu me perguntava? Foram tantos estampidos e enquanto Inacio segurava a minha mão, eu segurava meu rabo bem apertado. Não passaria nem um fio de linha por ali, mas a dor de barriga tava apertando. Ameacei um sorriso careta, mas os caras pareceram não notar. Eu pensei, sorria e aperte bem esse rabo, mas apertei a mão de Inacio junto, e ele devolveu o apertão, ele me entendia. Mas não, ele não entendia meu arrependimento de ter comido aqueles tacos com pimenta, e aquele feijão mexicano que eu esqueci o nome, e cristo, eu tinha comido guacamole? Eu tava suando frio, e suor escorria do lado do meu rosto, enquanto o resto das pessoas permaneciam imóveis. Eu já não me atrevia a mover, pois nesse caso, eu tinha certeza, um caldo fedido escorreria pelas minhas pernas. Meus olhos ficaram loucos. Moviam-se desesperadamente procurando algum lugar, uma moita, um balde, uma caçamba de caminhão, um refúgio, mas eu só via fumaça e corpos. Onde diabos viemos parar nessa nossa viagem? Outra bomba foi solta. Todos pularam, eu pulei só os olhos. Fumaça inundou nosso lado esquerdo. Subiu uma poeira, e pela minha experiência, duraria um tempo pra baixar. Larguei a mão de Inacio e vi a cara de espanto deles enquanto eu corria pro meio daquela fumaça. Deixei um rastro atrás de mim e desapareci naquele véu de areia. Quando parei, percebi que tava cagando numa perna com jeans. Pensei, se ainda não morreu, vai morrer com o fedor dessa merda.