Mãe-de-Ouro

Dona Maria era benzedeira de ar nos olhos e de boca torta de congestão. À noitinha colhia três ramos de arruda e três dentes de alho pra colocar na garrafa cheia d’água e assim, poder fazer a benzedeira no dia seguinte ou outro dia que fosse de sol. Era muito interessante, quando ela punha a garrafa cheia d’água com a arruda e o alho na cabeça da pessoa e começava a rezar, borbulhas de ar começavam a surgir dentro da garrafa e só parava quando a pessoa ficava boa. Eu mesmo vi isso várias vezes.

Mas nesse dia tudo deu errado. Dona Maria teve um dia cheio e se atrasou na colheita da arruda e do alho. Já era tarde da noite quando foi pro quintal. Neste tempo o Areão era roça, pasto e bambuzal cobriam a paisagem. Mesmo no escuro, Dona Maria pelejava tentando enxergar os pés de arruda e a horta de alho, quando um zunido passou por seus ouvidos e um arrepio subiu-lhe pelos cotovelos e braços. Dona Maria olhou pra cima no céu e vê uma enorme bola de fogo passar bem diante dos seus olhos, como um raio vermelho alaranjado de imenso clarão.

Dona Maria com as pernas moles senta no chão. Olhando aquilo fica assombrada pensando no que podia ser. Seu José seu pai era tropeiro e sempre contava estórias das coisas que ele via nas noites das pastagens que percorria. Bola de fogo assim devia ser mãe-de-ouro.

Mas isso não é hora pensar nessas coisas, pensa Dona Maria, que se levanta bem de pressa com as mãos cheias de arruda e alho, tudo meio misturado e corre pra dentro. Dona Maria ficou assombrada e levou uns três dias pra esquecer o assunto e chamar o padrinho Celestino pra benzer.

Eu acredito nas histórias de Dona Maria, afinal, ela me contava tudo isso antes da gente dormir.

Geraldo Faria
Enviado por Geraldo Faria em 15/02/2016
Reeditado em 17/02/2016
Código do texto: T5544573
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