O PADRE
Uma pequena cidadezinha nos confins do sertão atormentado pela seca, esquecida e perdida entre os montes de pedras, no meio da caatinga ardente, tinha como prefeito um coronel abastado que morava na Capital e só ia lá uma vez por mês para assinar os papeis da prefeitura.
Conta-se que durante a campanha eleitoral, além da troca de votos por dentaduras, ele tinha prometido que iria pedir para a Arquidiocese, um padre para comandar a recém construída Igreja que tinha como patrono Santo Antônio de Pádua. Para angariar mais votos e enganar o povo fervoroso, o tal coronel por pura megalomania, mandou buscar na Itália uma estátua do Santo Antônio em tamanho natural, esculpida em mármore Carrara por um famoso escultor italiano, exaurindo completamente os cofres públicos do já minguado município, claro, sem antes superfaturar a negociação.
Mas antes disso, o coronel tivera uma ideia bem bizarra. Em vez de solicitar para a Arquidiocese um padre de verdade, contratou um velho turco que ele tinha conhecido em uma zona de baixo meretrício, onde gostava de passar as noites jogando carteado e se abufelando com as quengas, tudo com dinheiro público. Esse turco já tinha sido seminarista e conhecia um pouco da liturgia católica. A ideia do coronel era que ele iria se passar por padre e assim enganar o povo mais uma vez. Assim dito, assim feito.
O falso padre chegou e foi recebido com festa. Passou a celebrar as missas sem chamar muita atenção, embolsando o dinheiro das ofertas e se embriagando com o vinho na sacristia. O coronel teve outra ideia. Queria que o falso padre obrigasse o povo a se confessar e assim, ficaria sabendo de algum segredo que pudesse tirar alguma vantagem. O falso padre então mandou avisar que todos os paroquianos tinham a obrigação de se confessarem todos os domingos antes da missa, mas apesar disso, ninguém aparecia no confessionário. Quando ele perguntava diziam que já tinham se confessado com o outro padre.
Que outro padre? Berrou o coronel. O falso padre, o turco, se limitava a repetir a história que o povo dizia. Havia outro padre que estava no confessionário. O coronel teve então a ideia deles ficarem escondidos dentro da igreja para saber quem seria esse outro padre. Logo depois de se esconderem, viram com terrível espanto, a estátua de Santo Antônio de Pádua descer do pedestal. Ficaram ali petrificados sem saber nem entender o que estavam presenciando. Santo Antônio de Pádua foi até o altar, ajoelhou-se e pareceu estar fazendo uma oração em silêncio. A estátua, agora já com aparência humana, caminhou então lentamente para onde estava o coronel e o falso padre que já se tremiam de medo. Naquele momento o turco teve um ataque cardíaco e morreu ali mesmo, sendo encontrado depois. Quanto ao coronel nada se sabe, nem que rumo tomou. Sumiu por completo.
Até hoje, dizem, na igreja daquela pequena cidade esquecida e perdida entre os montes de pedras, no meio da caatinga ardente, existe um sacerdote humilde e inspirador dentro do confessionário.