A Santa Muerte
A luz do Sol invadiu o quarto do menino Lúcio. Já estava acordado apenas esperando sua mãe, Dona Marta, chamá-lo para ir à escola. Levantando preguiçosamente foi ao banheiro e fez a higiene matinal. Na cozinha tomou seu café com leite, pão e manteiga, que tanto gostava. Saiu pelo portão seguido por Rex, o cachorro vira-latas, seu grande companheiro.
Chegando para às aulas, foi imediatamente chamado pela direção. O que será que fiz de errado? Pensava o menino enquanto se dirigia à diretoria.
- Sente-se Lúcio, disse a moça de óculos. O diretor já vem falar com você.
A espera de alguns minutos pareceu uma eternidade na cabeça do menino de 15 anos.
O diretor sentou-se ao seu lado e consternado falou com voz grave:
- Procure ficar calmo. Sua mãe está a caminho para vir buscá-lo. Seu pai passou mal e está hospitalizado.
O menino ficou pálido e paralisado. Não teve outra reação. Ficou pensando que o pai estivera ausente boa parte de sua infância. Na realidade, cumprira pena nos Estados Unidos. Fora preso com um grupo de mexicanos que assaltaram um banco e mataram o segurança. Ele dirigia carro utilizado para fuga. Após alguns anos na prisão, fora solto e extraditado para o Brasil. Sempre jurou que não teve opção, ou participava ou morreria.
Marta era brasileira e conhecera José, pai de Lúcio, pouco antes de sua prisão e engravidara. Voltou inicialmente para Governador Valadares, de onde muitos brasileiros partiram para os Estados Unidos. Guardara alguns dólares que, somados aos de José, perfaziam uma quantidade razoável. Mudou-se para São Paulo, fugindo das críticas da família e vizinhos. Abriu um mercadinho de bairro e passou a esperar a volta de José enquanto criava o pequeno Lúcio.
A mãe de Lúcio chegou e o levou direto ao hospital. O pai tivera um AVC, um derrame como diz o povo, e mal conseguia falar. Sorriu ao ver o filho e a mulher. Conseguiu, com esforço, citar a existência de um envelope guardado numa gaveta do armário de seu quarto que seria endereçado ao seu filho. Alguns dias depois morreu.
Dona Marta encontrou o envelope e notou o aviso: “deve ser entregue ao meu filho Lúcio, no dia que completar a maioridade”. Isto foi comunicado a Lúcio que não deu grande importância e acabou esquecendo. Continuou levando a vida no colégio e no mercadinho ajudando a mãe.
A vida na periferia não é fácil. Lúcio enfrentou muitas dificuldades, driblando convites para ingressar no tráfico de drogas, com promessas de “dinheiro fácil” ou seu uso, com “baratos maravilhosos”.
Tudo seguia bem até que Ângela, atravessou seu caminho. Conheceram-se numa festa e a moça colocou o rapaz, agora com dezessete anos, totalmente fora do rumo. Coração e os hormônios transformaram o até então, tranquilo Lúcio, numa pessoa inquieta, desatenta e encrenqueira. Passou a ter problemas na escola, brigar, fumar maconha e posar de macho, para impressionar Ângela, que de angelical não tinha nada.
*****
Dona Marta já não sabia mais o que fazer. Precisou até buscar, o agora rebelde Lúcio, na delegacia do bairro. O delegado liberou o jovem aos cuidados da mãe, até porque a conhecia do pequeno comércio.
O grande problema de Lúcio estava na beleza de Ângela que chamou à atenção de Argemiro, o Miro, chefe do tráfico da região. Bandido famoso, ao qual atribuíam vários crimes cometidos ou ordenados por ele. Ao colocar os olhos na moça a quis para si. Esta ficou envaidecida e passou a se divertir com as investidas de Miro e com o ciúme de Lúcio.
O angustiado Lúcio atingiu à maioridade. Ao chegar em casa a mãe preparara uma festa surpresa com os amigos de infância, da escola e vizinhos. Lúcio não gostou, mas não teve coragem de uma desfeita. Queria estar com Ângela. Assim que pode, ligou para a ela e não a encontrou. Ficou descontrolado, irracional. Saiu sem dar satisfação a ninguém e foi saber de Ângela. Não a encontrou. Ficou sabendo que ela fora vista entrando num carro do tipo que o Miro possuía.
Ao voltar para casa de madrugada, encontrou Dona Marta acordada. Esta estava com o envelope citado pelo pai. Ela achou que, talvez, ali tivesse alguma coisa que a ajudasse com o menino.
Lúcio abriu o envelope. Reconheceu a letra do pai que falava de seu amor por ele e a mãe. Pediu que ele tomasse conta dela e tivesse um bom comportamento. Agora, escreveu ele, se tiver problemas grandes e aparentemente insolúveis, reze para a Santa Muerte, que atenderia aos pedidos, por mais estranhos e impossíveis que parecessem. Tornara-se devoto da santa na prisão, por influência dos amigos mexicanos. Havia
também um “santinho” com a imagem da estranha santa.
O rapaz resolveu pesquisar e, na internet, encontrou:
A Santa Muerte geralmente aparece como uma figura esquelética, vestida com um longo manto (um esqueleto sob um manto) e carregando um ou mais objetos, normalmente uma gadanha e um globo. O manto costuma ser branco ou vermelho, mas representações da figura variam significantemente de pessoa a pessoa de acordo com o pedido do devoto ou do ritual a ser apresentado. Como o culto a Santa Muerte era clandestino até recentemente, a maioria das preces e outros rituais eram feitos de forma privada, em casa.
Soube também, que a esta santa recorriam os delinquentes e marginais, fazendo pedidos, os quais não tinham coragem de fazer aos santos tradicionais, muito menos ao alto escalão divino.
O aniversariante resolveu pedir um presente à santa: a morte de Miro, não importava como. Rezou com fé e saiu à rua com a imagem da estranha figura nas mãos. Avistou o carro do bandido. Dentro, ele e Ângela. Renovou o pedido e correu em direção a eles. Não tinha ideia do que iria fazer. Ao se aproximar, viu Miro sacar uma pistola e atirar. O traficante estava cercado pela polícia. Uma bala atravessou a cabeça do bandido e outra a da moça. Lúcio continuava correndo e gritou: santa idiota, ela não...Foi atingido e sofreu perfurações no coração e pulmões. Morreu junto com seu amor e o desafeto.
Parece que houve um problema de comunicação com a Santa.
A luz do Sol invadiu o quarto do menino Lúcio. Já estava acordado apenas esperando sua mãe, Dona Marta, chamá-lo para ir à escola. Levantando preguiçosamente foi ao banheiro e fez a higiene matinal. Na cozinha tomou seu café com leite, pão e manteiga, que tanto gostava. Saiu pelo portão seguido por Rex, o cachorro vira-latas, seu grande companheiro.
Chegando para às aulas, foi imediatamente chamado pela direção. O que será que fiz de errado? Pensava o menino enquanto se dirigia à diretoria.
- Sente-se Lúcio, disse a moça de óculos. O diretor já vem falar com você.
A espera de alguns minutos pareceu uma eternidade na cabeça do menino de 15 anos.
O diretor sentou-se ao seu lado e consternado falou com voz grave:
- Procure ficar calmo. Sua mãe está a caminho para vir buscá-lo. Seu pai passou mal e está hospitalizado.
O menino ficou pálido e paralisado. Não teve outra reação. Ficou pensando que o pai estivera ausente boa parte de sua infância. Na realidade, cumprira pena nos Estados Unidos. Fora preso com um grupo de mexicanos que assaltaram um banco e mataram o segurança. Ele dirigia carro utilizado para fuga. Após alguns anos na prisão, fora solto e extraditado para o Brasil. Sempre jurou que não teve opção, ou participava ou morreria.
Marta era brasileira e conhecera José, pai de Lúcio, pouco antes de sua prisão e engravidara. Voltou inicialmente para Governador Valadares, de onde muitos brasileiros partiram para os Estados Unidos. Guardara alguns dólares que, somados aos de José, perfaziam uma quantidade razoável. Mudou-se para São Paulo, fugindo das críticas da família e vizinhos. Abriu um mercadinho de bairro e passou a esperar a volta de José enquanto criava o pequeno Lúcio.
A mãe de Lúcio chegou e o levou direto ao hospital. O pai tivera um AVC, um derrame como diz o povo, e mal conseguia falar. Sorriu ao ver o filho e a mulher. Conseguiu, com esforço, citar a existência de um envelope guardado numa gaveta do armário de seu quarto que seria endereçado ao seu filho. Alguns dias depois morreu.
Dona Marta encontrou o envelope e notou o aviso: “deve ser entregue ao meu filho Lúcio, no dia que completar a maioridade”. Isto foi comunicado a Lúcio que não deu grande importância e acabou esquecendo. Continuou levando a vida no colégio e no mercadinho ajudando a mãe.
A vida na periferia não é fácil. Lúcio enfrentou muitas dificuldades, driblando convites para ingressar no tráfico de drogas, com promessas de “dinheiro fácil” ou seu uso, com “baratos maravilhosos”.
Tudo seguia bem até que Ângela, atravessou seu caminho. Conheceram-se numa festa e a moça colocou o rapaz, agora com dezessete anos, totalmente fora do rumo. Coração e os hormônios transformaram o até então, tranquilo Lúcio, numa pessoa inquieta, desatenta e encrenqueira. Passou a ter problemas na escola, brigar, fumar maconha e posar de macho, para impressionar Ângela, que de angelical não tinha nada.
*****
Dona Marta já não sabia mais o que fazer. Precisou até buscar, o agora rebelde Lúcio, na delegacia do bairro. O delegado liberou o jovem aos cuidados da mãe, até porque a conhecia do pequeno comércio.
O grande problema de Lúcio estava na beleza de Ângela que chamou à atenção de Argemiro, o Miro, chefe do tráfico da região. Bandido famoso, ao qual atribuíam vários crimes cometidos ou ordenados por ele. Ao colocar os olhos na moça a quis para si. Esta ficou envaidecida e passou a se divertir com as investidas de Miro e com o ciúme de Lúcio.
O angustiado Lúcio atingiu à maioridade. Ao chegar em casa a mãe preparara uma festa surpresa com os amigos de infância, da escola e vizinhos. Lúcio não gostou, mas não teve coragem de uma desfeita. Queria estar com Ângela. Assim que pode, ligou para a ela e não a encontrou. Ficou descontrolado, irracional. Saiu sem dar satisfação a ninguém e foi saber de Ângela. Não a encontrou. Ficou sabendo que ela fora vista entrando num carro do tipo que o Miro possuía.
Ao voltar para casa de madrugada, encontrou Dona Marta acordada. Esta estava com o envelope citado pelo pai. Ela achou que, talvez, ali tivesse alguma coisa que a ajudasse com o menino.
Lúcio abriu o envelope. Reconheceu a letra do pai que falava de seu amor por ele e a mãe. Pediu que ele tomasse conta dela e tivesse um bom comportamento. Agora, escreveu ele, se tiver problemas grandes e aparentemente insolúveis, reze para a Santa Muerte, que atenderia aos pedidos, por mais estranhos e impossíveis que parecessem. Tornara-se devoto da santa na prisão, por influência dos amigos mexicanos. Havia
também um “santinho” com a imagem da estranha santa.
O rapaz resolveu pesquisar e, na internet, encontrou:
A Santa Muerte geralmente aparece como uma figura esquelética, vestida com um longo manto (um esqueleto sob um manto) e carregando um ou mais objetos, normalmente uma gadanha e um globo. O manto costuma ser branco ou vermelho, mas representações da figura variam significantemente de pessoa a pessoa de acordo com o pedido do devoto ou do ritual a ser apresentado. Como o culto a Santa Muerte era clandestino até recentemente, a maioria das preces e outros rituais eram feitos de forma privada, em casa.
Soube também, que a esta santa recorriam os delinquentes e marginais, fazendo pedidos, os quais não tinham coragem de fazer aos santos tradicionais, muito menos ao alto escalão divino.
O aniversariante resolveu pedir um presente à santa: a morte de Miro, não importava como. Rezou com fé e saiu à rua com a imagem da estranha figura nas mãos. Avistou o carro do bandido. Dentro, ele e Ângela. Renovou o pedido e correu em direção a eles. Não tinha ideia do que iria fazer. Ao se aproximar, viu Miro sacar uma pistola e atirar. O traficante estava cercado pela polícia. Uma bala atravessou a cabeça do bandido e outra a da moça. Lúcio continuava correndo e gritou: santa idiota, ela não...Foi atingido e sofreu perfurações no coração e pulmões. Morreu junto com seu amor e o desafeto.
Parece que houve um problema de comunicação com a Santa.