Blitzkrieg

Tudo aconteceu numa cinzenta e horrível tarde de outono. Nosso grupo estocava alimentos para a próxima estação, havíamos encontrado um grande carregamento de mantimentos. O inverno prometia rigor e não podíamos pensar em descanso. Tudo estava dentro dos conformes, quando as tropas inimigas se aproximaram. Já estávamos acostumados aos ataques, o inimigo era conhecido e já tínhamos uma estratégia de defesa. Geralmente eles nos atacavam com pedras, jatos d’água e outros artefatos que causavam poucos danos ao nosso numeroso exército. As baixas eram poucas, alguns poucos operários morriam nesse combate desigual. Quando eles destruíam a entrada de nossa colônia, davam o toque de recolher e partiam, satisfeitos. Preparávamos para a defensiva, quando descobrimos a evolução bélica do inimigo. Ouvimos o um barulho cortar o ar, e ao olhar para o céu, vimos a morte em forma de bolas de fogo. Caiam do alto, bloqueando caminhos, atingindo em cheio os operários, trazendo dor e desespero. Os gritos, o cheiro das folhas queimadas, o grande incêndio. As portas da colônia fechadas, quem estivesse de fora tinha que se refugiar nas cercanias até que o impiedoso exército, satisfeito com o massacre, fosse embora. Nunca entendi bem o ódio do povo das colinas. Eles habitavam uma grande construção, para onde enviávamos tropas para buscar provisões: açúcar, arroz, nos contentávamos com restos dos grandes banquetes daquela vila. Nossa presença não os agradava, por isso nossa ação era furtiva. Nossa colônia era nômade, mas a Inteligência do inimigo sempre nos encontrava, as expedições vasculhavam tudo até achar uma pista, que sempre levava a um de nossos acampamentos. O massacre durou exatos 15 minutos. Quando achava que ia acabar, os paramédicos entravam em ação, mas logo uma nova série de bombas, uma nova chuva de morte despencava do céu. Vupt, vupt, vupt...Bolas de fogo carregadas de uma substância pegajosa, branca, letal. Operários gritando em agonia, provisões queimando, caos, terror, desespero. Não estávamos preparados para um ataque daquela magnitude. Impotente, me escondi sob numa trincheira, arrastando um colega paralisado pelas cenas horríveis de morte e destruição. Pude ver um grupo de socorristas, três deles atingidos em cheio pela lava branca quando tentavam um resgate. O cheiro dos corpos, o vento soprando, a destruição. Nossa sorte é que eles se contentavam em atingir apenas os comboios de provisões. O ataque sempre era externo, eles nunca invadiam a colônia. Mas eles preparavam algo mais aquele dia. Uma grande fogueira era erguida na entrada principal! Destruição em massa! Todos estavam em perigo, a rainha, os bebês, os idosos! A entrada já estava bloqueada, cheia de madeira, folhas, gravetos, todo o tipo de entulho inflamável. Impotente, vi a tocha brilhar no céu, o sorriso sádico do inimigo, o golpe final. A mão que levava a tocha se aproximava do alvo, o fim se aproximava, nada mais a fazer. Quando...

-Menino! Vem tomar café, pára de brincar com formiga!

-Oba! Café! To indo, Vó!