Mula sem cabeça existe!
Assim que terminou o segundo turno na fabrica de botões, já passava das onze da noite, Jeremias foi para o vestiário trocar de roupa antes de ir embora pra casa. Saindo pelo portão da fábrica, tirou alguns dedinhos de prosa com seu Nicolau o vigia e, logo depois, pegou o caminho de casa.
Era noite quente, de céu limpo e de lua cheia. Descendo a estradinha de Tremembé pareando a Ponte Seca, Jeremias olhava adiante o longo muro caiado de branco, que se destacava da escuridão, pois naquela época, não havia postes de luz.
De repente, Jeremias leva um susto e para. Olhando para o final muro percebe um enorme cavalo preto sem cabeça. O bicho estava parado a uns 30 metros lá na frente. Meu Deus o que é aquilo? A rua vazia, aquela clarão da lua, só grilo cantando. É mula sem cabeça!
Será que é, será que não é? Jeremias segue caminhando meio que de lado sabe? Na espreita, vai que é, e de lado, é mais fácil de virar e correr. O animal era enorme e conforme Jeremias se aproximava ficava mais arrepiado.
Já quase sem coragem, Jeremias mudou de lado e foi pro outro lado da estrada e sem tirar o olho do bicho e, não é que não era! Olhando por outro lado, Jeremias percebeu um enorme buraco no muro por onde o cavalo enfiava a cabeça pra dentro do terreno e pastava. É que o clarão da lua no muro branco e a escuridão em volta, dava a impressão que o bicho só tinha corpo.
Que alivio! Era só canseira do trabalho e imaginação, segue pensando Jeremias. Mas bem que eu podia jurar que era!