As advertências do irmão de um e da mãe do outro.

O comentário era geral de que o crente, que era irmão do atirador o havia avisado. Por outro lado havia também os conselhos da viúva, mãe da vítima que já havia pedido, rogado e até feito promessa para que o filho abandonasse o maldito vício do jogo de baralho apostado. Aquilo era uma porra, um lugarzinho filho da puta, de gente de marca pior, quem salvava a pocilga era a lei dos crentes. Mas é bom que se diga, dos crentes de vergonha, aqueles da linha ortodoxa, porque esse novatos eram postiços, adotavam a seita da prosperidade e haviam excluído há muito tempo a figura de Jesus Cristo de todas as suas conveniências.

Pois bem, os dois agora estavam no time dos tementes a Deus, arrependidos, um de suas palavras e o outro dos seus atos, quando a omissão dos dois os teria livrado daquele estado de beatitude forçada. Mas é bom que se diga a causa primeira daquele estado presente.

A mesa de jogo era atraente pros dois. A vítima parecia ser o mais infeliz no amor, pois o ganho no jogo compensava suas carências afetivas. Já o atirador, era bem casado, pai, só ouvia as recriminações da mulher e da mãe, porque por falta de dinheiro chegava a faltar o básico na cozinha. A vida seguia entre os altos e baixos, sem dramas e sem comédias.

O caso se deu num domingo de tarde. Numa dessas tardes fastidiosas, quando muita gente dorme como quem morre, outros se mandam pra praia como quem se apaixona e outra parte fica em casa pra não fazer nada... a cidadela ficava tão deserta como o cemitério, interior era aquilo, o mesmo que em cidade grande naqueles dias. O dia até começava bem pintado, mas a tarde chegava como uma gueixa pálida. Quem quisesse que achasse bonita aquelas japonesinhas... onde estava a beleza daquelas figurinhas de cera? Pois bem, era uma tarde cacete dessas de domingo, que quem bebeu muito de manhã e dormiu, acorda com a cara amarrotada e dor de cabeça.

A mesa de jogo no bar do Severo, estava no ar desde a noite de sábado. A vítima estava ganhando mais do que todos juntos, o atirador era o que mais perdia. A mulher deste, havia mandado um recado por um menino pra ele ir pra casa almoçar, mas o homem não foi. Pensava que depois do meio dia sua sorte ia mudar, mudou sim, mas pra pior. Perdeu, perdeu, perdeu. Sentia raiva, mas não lhe morria a diabólica esperança de pelo menos recuperar o que havia jogado naquela noite e dia. Em vão. Acabou o dinheiro. Resolveu se levantar. Levantou-se. Disse que ia continuar jogando, antes porém ia em casa pegar algum dinheiro. Foi aí que o diabo soprou a frase aziaga e a vítima disse:

- que dinheiro! Você não tem mais dinheiro em casa!

Não disse nada, só olhou pro esnobe ganhador. Não tinha mais dinheiro, mas tinha um revólver cheio de balas novas.

Agamenon, Russas, 26 de agosto de 2015.

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 26/08/2015
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