O boró encerado
Foi na tenra infância que começamos, a irmandade, a ouvir essa expressão de nossas tias. Era dita com um certo ar de reprovação, outro de afeição, sendo que a primeira parecia sempre preponderar sobre a segunda.
A casa da vó era pirtim, no lote vizim, então as recriminações ficavam proporcionais à regularidade de nossas visitas. Que raramente não vinham acompanhadas duma vontade de comer bolo, um biscoito ou, o que era mais raro mas mais caro, ganhar um pedaço de carne de panela, desfiando-se de cozida, que só Tibebé sabia fazer.
E havia ainda as estórias de Ti-Rita, e as histórias de Ticintina. Que queríamos ver entremeadas duma ou doutra guloseima. Mas sem muita teima. A quase certeza é que viria. E, de hábito, associadas a alguma xingação. Que se diluiía na doce mastigação.
E não era que fôssemos assim tão espoletas, malcriados, ou veros capetas. Só que criança em volta o tempo todo, é coisa que não se limpa só com vassoura ou rodo. Criança, que é esperança, também cansa.
E tome ser xingado como se tivesse o boró encerado. E nem sempre era assunto encerrado. Contudo, sem enfado. E acho que no google ainda não registrado.