Sentada à mesa do café, fazia a primeira refeição do dia de maneira quase que automática, o mesmo ritual de sempre, na verdade nada mudava na minha vida havia muito tempo. Faltava perspectiva, motivação, faltava alguém para compartilhar minhas emoções, dividir meus problemas, ajudar-me nas soluções de tantos que se acumulavam em minha vida.
    Senti, então,  a presença de alguém que se aproximava, puxou a cadeira do meu lado e sentou-se. Suas mãos estavam frias quando pousou-as sobre as minhas, mas seu sorriso era enternecedor. Olhei profundamente para aquele rosto que tanto amava, contemplando aquele sorriso que não envelhecia, o corpo se transformou, os cabelos ficaram brancos, as rugas se acentuavam,  mas o sorriso, aquele que fazia brilhar os seus olhos...estrela na escuridão, não, esse não envelhecera.
     Não sei por quanto tempo ficamos assim, olhos nos olhos, sem nos falar, na verdade as palavras eram desnecessárias, ele sabia exatamente do que eu precisava, então, aproximou-se mais, deu um beijo suave em minha testa e abraçou-me. Foi um abraço, daqueles que a gente tem vontade de nunca mais se soltar. Nunca um abraço fora tão aconchegante e revelador, foram minutos, segundos, talvez, não sei dizer, que duraram uma eternidade. Na minha mente passaram cenas de um tempo longínquo, pequenas porções de felicidade, de um tempo onde não havia espaço para a dura realidade, um tempo em que meu dicionário de vida ainda não conhecia palavras como saudade, sofrimento, dor, mágoa, ressentimento, perdas, ilusão, decepção...isso vem à medida que a gente cresce, amadurece...e como dói amadurecer!   

    Ele ainda estava ali, parecia que também não queria romper o laço que nos unia e desfazer aquele momento mágico e eu pensei nas várias oportunidades que perdi de dizer a ele o quanto o amava, não que nunca o tivesse feito, mas sabia que deveria ter feito mais, muito mais, bem como ter aproveitado mais todos os momentos que a vida nos concedeu, e a minha voz novamente se calou para sentir sua vibração, seu amor incondicional, paternal,  que me fez sentir tão pequena como nos braços de um super herói, daqueles que, com sua espada mágica, nos defendem de todo o mal.
      Agora é só uma estrela a brilhar no manto azul da noite... às vezes, acho que é a própria lua a sorrir para mim.
      Quantas coisas eu gostaria de dizer-lhe, mas não consegui, em seus olhos haviam tanto amor e serenidade que temi quebrar aquele encanto e apenas desfrutei daquela sensação de paz.
   Acordo e, então, agradeço: Obrigada, meu querido pai, por visitar-me nesse momento de indecisão e de profunda reflexão em que me encontro, sei que para o senhor é difícil aconselhar-me, mas a sua presença é forte em mim e as centelhas do seu amor são luzes do teu brilho a me conduzirem e me fortalecem nas minhas provações.  Tenho esperança de que um dia nos reencontraremos na dimensão em que se encontra, se for do meu merecimento. Eu te amo!
    Outras vidas vivemos e outras vidas viveremos para o nosso aprendizado, que nos farão pessoas melhores, em sintonia com o Todo, que é Amor.
   Estou em paz,  com a alma mais leve...meu sono, agora, é tranquilo e reparador...



 
 
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Lucia Moraës
Enviado por Lucia Moraës em 17/08/2015
Reeditado em 05/06/2019
Código do texto: T5349621
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