CHEIO DE SI E DE CIO

Escrever, depois de se aprender, é relativamente fácil. A relação estabelecida com a escrita é que será fácil ou difícil, basicamente depende do grau de exigência que nos obrigamos a ter.

Pessoalmente gosto de escrever bem, de forma correta e compreensível. Algo semelhante à situação de falar, gosto de ser compreendido. Porém, até a falar, gosto de pensar e dizer coisas que ainda possam não ter sido pensadas, às vezes arrisco o que ainda estou a formular pela primeira vez. Ou seja, não escrevo para ser simples, a falar tento adequar o que digo à pessoa ou pessoas com quem falo, na escrita é impossível.

Como a primeira pessoa que lê o que escrevo sou eu, às vezes dou coisas para eu mesmo pensar, sentir, entreter o ter, ver, ler, verter a composição tentando chegar fundo no ser. Muitas vezes, o resultado pode pedir que amarfanhe a folha, onde tenha escrito, é o deitar fora dum resultado não satisfatório.

Este “aviso” é algo que conto e estou a partilhar, pode ser lido como um conto. De que depende essa decisão, da disposição do leitor. Da nossa disposição enquanto leitores dependem as obras, uma pintura abstrata pode não passar de um borrão. O próprio autor, ao fazer o borrão, deve pensar bem o que entende ser a sua arte.

Quando num museu ou numa página da Internet me detenho a tentar decifrar um “borrão” estou a tentar ir ao encontro da criação como seu leitor, nem sempre á fácil. Às vezes, sem conhecer o autor, sinto não ter qualquer base para aperceber onde está a arte da sua criação.

Este aviso vai falar dum desejo e materializa-lo, uso-o para apresentar um conto. Um texto que inclui num livro de contos, sendo discutível se se tratará de um conto. Conto com o leitor, com a sua leitura, para decidir.

Se for uma leitora é ainda e também um leitor, nada se altera: a leitura é o cerne onde (se) concerne estar – o essencial.

Pensando melhor, um último parágrafo, o final inesperado! Pelo menos para mim… não vou acrescentar mais um texto a este, fica com duas valências “aviso” e “conto”. Claro, é um risco, são muitos riscos, desejaria desse para ser um desenho, nele fazer uma pintura, uma música, um bailado, a literatura é a única arte que pode ter e expressar tão amplos desejos.

O que estava para ser Conto E Aviso primeiro em separado, depois junto, agora é conto num apenas isto que não é “apenas isto”, nada disso, ambicioso: cheio de si e de cio :)

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 22/07/2015
Reeditado em 22/07/2015
Código do texto: T5319580
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