A tese do Avelino
O dia era o da esperada chegada - e desembarque - do homem na Lua. Vinte e pouco de julho de 1969. Com medo do Pelé fazer seus mil gols logo, e gorar a celebração do evento seus, os americanos apressaram-se na corrida espacial.
TV lá em casa ainda não havia. Ou ao menos não se a via. Mal não não fazia, vovó era vizinha de porta e quintal. Nos rumamos para lá, espaço amplo havia no sofá. Ou nos seus arredores.
Até o Avelino, amigo de infância e juventude de papai, que tinha vindo visitá-lo foi conosco botar sentido naquele fato inusitado. As idades dos amigos regulavam, pouco abaixo dos cinquenta anos então. Papai já divisava a aposentadoria e Avelino, sempre desavindo com fábrica, havia se mudado pra capital atrás do sustento. E vinha se virando com uns alojamentos que alugava na periferia industrial de BH.
Vovó, é que já raspando a octogenaridade e já enferma - além de suspeitosa com as ações da Lua - manteve-se presa ao leito, sem poder ligar para aquele esperado feito.
E quando a imagem se projetou, a sala se silenciou. Era emoção demais, ainda que em preto e branco assaz. Minutos de narração, atenção e angústia se sucediam. A hora era ainda de orbitar o satélite lunar.
Mas e pousar, como se iria dar? Foi aí que o bom Avelino, à imaginação deu asa e falou, com familiaridade, da NASA:
- A NASA vai pousar lá de biquete, fincando a nave num daqueles buracos da Lua.
Armstrong não seguiu as instruções avelínicas, quiçá por não tê-las ouvido a tempo. Mas não decepcionou o amigo do peito de papai.