A VIAGEM
Era uma quinta feira do início do mês de janeiro, quando Dr. Milton Fernandes, chegou em casa depois de um dia árduo em seu consultório de clínica médica. Ele era casado e tinha 2 filhos ainda pequenos, que juntamente com a sua esposa, viviam sempre lhe pedindo para dar um passeio em Curitiba, já que desde que havia casado há 7 anos, prometera à mulher que os levaria àquela cidade maravilhosa e que ficava apenas a umas 6 horas de São Paulo onde residiam. Seus filhos tinham, respectivamente, 5 e 4 anos.
Mas, depois de fazer contato com uma companhia de excursão, ele resolveu participar da mesma com a família. A excursão seria na sexta-feira e ele foi logo falando com a sua mulher para preparar-se.
E assim, no horário combinado, ou seja, às 19 horas, lá estavam Dr. Milton e família prontos para realizar o sonho de conhecer Curitiba.
Perto de 40 pessoas encontravam-se na empresa de turismo para o embarque. Por ter tido um dia muito quente, até inusitado para a cidade de São Paulo, o risco de ter um temporal era muito grande.
Mas, já estava tudo esquematizado para dar partida ao ônibus que os levaria ao passeio de 3 dias.
No banco paralelo onde se encontrava Dr. Milton e família, assentou-se um jovem aproximando ter uns 30anos. Alto e magro, muito branco e de barba, vestia-se de um terno preto. Por uns momentos, Dr. Milton procurou conversa com o jovem, porém, ele sequer deu-lhe atenção e de uma forma insólita, deitou-se de costas para Dr. Milton e ocupou o espaço dos dois bancos. Muitos perceberam a atitude estranha do indivíduo, que parecia um ser triste.
Com a partida do ônibus na hora certa, todos se acomodaram em suas poltronas. Como era previsto, raios e trovões cruzavam o céu de São Paulo com um prenúncio de um grande temporal para aquela noite.
O percurso seria pela Estrada Régis Bittencourt, mais conhecida pela "Estrada da Morte" devido aos inúmeros acidentes que, geralmente ocorrem nela, cefando milhares de vida ao longo de seu trajeto. Realmente a estrada era muito perigosa.
E o temporal começou a cair com uma intensidade aterrorizadora dando um medo em todos os que se encontravam na excursão. Ninguém conseguia dormir, menos o tal jovem de preto, que alheio a tudo que se passava na estrada, dormia profundamente, enquanto o
ônibus, que já havia percorrido uns 240 km, começou a diminuir de velocidade porque o temporal estava cada vêz pior.
Eis que, de repente, o motorista do ônibus resolve, por precaução, parar em um acostamento. Voltou-se para os passageiros e disse que não poderia dar continuidade e que muitos e mujitos carros já encontavam-se parados por causa do temporal. Todos ficaram atônitos e apreensivos. Com o falatório, o tal indivíduo estranho, que até então não tecera nenhum contato com ninguém do ônibus, levantou-se e se dirigiu para o lado de fora, mesmo com toda chuva que caía. Muitos o chamaram, mas, ele, que parecia ser surdo, ignorou os chamados e nem deu nenhuma satisfação ao motorista. Debaixo do temporal, o jovem esquisito foi caminhando em direção à estrada e sumiu na escuridão. Todos comentaram o fato dele ser diferente e comportar-se, desde que chegara para a excursão, de uma forma inusitada, estranha mesmo. Ficaram sem saber o que estava ocorrendo na mente daquele jovem.
Passado uns 30minutos, apesar da chuva não parar, apareceu na pista contrária um carro da Polícia Rodoviária. O guarda foi até ao interior do ônibus e perguntou se havia algum médico por ali. Dr. Milton logo se apresentou e ficou sabendo que um carro que vinha em sentido contrário, ou seja, em direção à cidade de São Paulo, havia batido em um barranco e quase caíra em um grande precipício. Segundo o guarda, não parecia ter mortes, mas havia muitos feridos, já que se tratava de uma família e tinha crianças no veículo. Prontamente o Dr. Milton pediu ao motorista do ônibus que o aguardasse e foi para o local em companhia do guarda rodoviário.
Passado mais meia hora e o temporal parecia não ter mais fim, Dr. Milton volta para o interior do ônibus meio assustado e dizendo que foi um grande milagre o que ele acabara de assistir. Segundo ficara sabendo no local, foi um homem de terno preto quem provocara o acidente para que não ocorresse uma tragédia, pois segundo os comentários dos que sobreviveram à tragédia, o carro em que se encontravam veio derrapando em direção ao tal precipício quando o tal homem vestido de preto surgiu do nada e evitou a tragédia, pois o dono do carro ao acender o farol o viu, e, num golpe forte no volante, para não atropelá-lo, foi de encontro ao barranco.
Dr. Milton socorreu e viu que ninguém se machucara grave e, após assistir aos ocupantes do veículo e ser dispensado, foi, juntamente com o guarda a procura do jovem de preto, que muito estranhamente, saíra do ônibus da excursão e sumira na escuridão daquela estrada da morte. Devido aos grandes transtornos, depois de ligar para a empresa de turismo, o motorista, por conselho dos próprios guardas rodoviários, por ordem, resolveu voltar e cancelar a viagem à Curitiba.
Relatou por telefone o que tudo ocorrera e disse que o tal indivíduo saíra do ônibus estranhamente e não voltou mais.
Na semana seguinte, Dr. Milton que ficou abismado com o comportamento do tal jovem, resolveu ir até a Empresa de Turismo e procurou saber se ele aparecera por lá ou que tenha dado notícias de seu paradeiro. Com a resposta negativa, pois ninguém tivera nenhuma informação, Dr. Milton prontificou-se apanhar o seu endereço e ir procurá-lo, pois apesar de ter sido esquisto, a preocupação existia no coração daquele médico.
Chegando no tal endereço, que era um pouco longe do centro da cidade, deparou-se com um enorme casarão. Parecia ser abandonado, tal era o estado precário que se encontrava. Gritou pelo seu nome, que só ficara sabendo ser Jorge Luiz Medeiros, quando fora até à empresa. Gritou, gritou, e nada. à frente da calçada a entrada para o velho casarão continha um pequeno portão de ferro enferrujado preso por uma corrente também muito velha. Dr. Milton foi entrando e subiu uma escada onde havia no seu final uma pequena varanda. Toda suja, toda empoeirada, a porta de entrada encontrava-se aberta. Tornou a gritar por Jorge e batendo palmas, mas nada de ser atendido. Tudo era sombrio e na sala de estar, uma pequena poltrona rasgada era só o que ornamentava. Meio temeroso, mas, cada vêz mais curioso com o que estava encontrando, foi entrando pela casa a dentro. Passou por corredor que por ser de madeira, rinchava ao passar. Continuando,