Hipocrisia pestilenta
Na noite fria e densa estava lá eu, pensando em nada além do que estava a minha volta naquela cela crua e úmida, na qual fui jogado sem pudor igual a carne posta em brasa esperando sua sentença, Acho que tu, caro leitor, está curioso para ter o entendimento de minha culpa a qual me deu esta sentença tão vil.
Entretanto preciso questionar seu senso moral, o que vocês, hipócritas, com toda vossa ética e moral envaidecida por essa sociedade esdrúxula que retira sem piedade total esperança daqueles que, de forma desfavorecida não auxiliam no capital da corporação apenas vivendo, abandonando até mesmo o lindo direito da moradia por nada conseguir, sendo considerado como inseto sem importância, um peso morto, o que vós pensais a respeito?
Bom, não adianta de nada nossa discussão, mas o que realmente importa é que a vossa injustiça atingiu-me como uma bala. Em meio ao crime ocorrido nas proximidades onde eu com a cabeça ao chão encoberto por jornais estava, quando um corpo desnudo de mulher jogado ao meio fio é estranhado por um olhar inocente de um trabalhador que passa perto de mim durante sua ida ao emprego pela manhã, infelizmente, esse, viu duas pessoas ao qual apenas uma estava viva.
Logo várias viaturas chegaram, e os policiais cercando-me sem perguntar nada, começam me agredir e revistando-me sem consideração, tratado sem ética e após toda a vergonha começa o interrogatório:
-Então, seu vagabundo, -disse um dos policiais- por que você matou a loirinha?
Respondi rapidamente sem entender:
- não seria capaz de tal delito, pois a vida é muito bela e nunca deve ser tirada por mão humana, sendo esse o maior crime que conheço.
-Olha aqui, mendigo, você está fedendo e coberto de sangue; será levado preso para averiguações, a testemunha diz que foi você.
E assim, chego a esse momento, preso nesta cela horrenda e fétida sem nenhum reconhecimento; em tal situação, o único crime que cometi aos olhos alheios foi de ser um inseto sujo do qual ninguém se aproxima e minha única forma de expressão é uma lamúria na cela:
-Oh, morte, vinde me buscar! Já não quero mais viver, se não for para fazê-lo em liberdade.
Ao proclamar tal lamento, ouço ruídos vindos cela a fora. Assustado estou, pois a morte pode atender meu clamor. Então, tremendo muito, logo contradigo:
-A vida é bela e nela quero ficar, quero ser feliz e sempre sorrir. Deixe-me em paz anjo, da morte.
Então, o ruído diminui e vejo um animal sair das sombras, é um pequeno rato que estava me assustando, ser tão imundo e nojento que me rodeava. Poderia me passar alguma doença com sua maldita imundice, preciso manter isso longe de mim.
Com raiva parto para cima do roedor e o encho de pontapés, até ter total certeza de que esse está morto e quando não sinto mais nenhum sopro de vida, relaxo.
Observando aquele pequeno cadáver e começo a refletir o quão grande é minha hipocrisia.