CONFUSÃO INSÓLITA
CONFUSÃO INSÓLITA
Sono.
Ah, que sono!
Entrei na portaria, cumprimentei o porteiro sem o ver. Subi alguns degraus, em dois lances de escadas. Seria o segundo andar? Enfiei a chave na fechadura, abri a porta, entrei, fechei a porta, tranquei-a, tirei a chave e pendurei-a na estante, num gancho só para este fim. Entrei no quarto e me joguei na cama. Dormi antes mesmo do corpo tocar no lençol.
Acordei com um cutucão na sola do pé. Assustado, ergui o corpo para sentar; e eis que um estranho estava do lado da cama, apontando um facão para mim:
- Levanta daí seu safado! Esta cama é minha!
- Como sua? É minha! Estou na minha casa, ou melhor, no meu apartamento. Como você entrou aqui?
- Como seu apartamento? Esta casa e cama são minhas! Você é um invasor...
Nisto outro louco, com um revólver na mão, invade o quarto gritando:
- O que vocês dois estão fazendo no meu quarto?
Apontava ora para mim ora para o outro. E berrava:
- Vou matar os dois! Este apartamento é meu! Vocês invadiram e estão transando na minha cama!
Apontando para o cara do facão apelei:
- Primeiro que este apartamento é meu! Portanto este quarto também, idem para a cama; e segundo que este filho da puta aqui também é invasor como você!
O cara do facão levantou este e ia me matar se não recebesse um tiro certeiro bem no meio da testa.
O cara do revólver parece que se arrependeu do tiro e perguntou-me:
- E agora cara? Como dar fim no corpo?
Respondi na bucha:
- Foi você que o matou, pega-o pelo pé e sai conforme entrou. Eu estou na minha casa...
Mais um tiro...
P. S1. Aqui no purgatório fui informado que realmente eu havia invadido um lar alheio. A coincidência da chave, gancho de pendurá-la, quarto e cama... ninguém sabe explicar. São coisas de espíritos de porco.
P. S2. O cara que morreu com um tiro na testa era realmente o dono. O assassino duplo também estava enganado de endereço.