AUTÓPSIA NUM VIVO

AUTÓPSIA NUM VIVO

{{{{{do livro “TUDO É EVENTUAL”, do

escritor STEPHEN KING, página 37}}}}}

“Olhem para o meu peito!” Grito para a médica. “Você deve estar vendo que ele sobe e desce, por mais rasa que esteja minha respiração! Pombas, você é uma especialista, pelo amor de Deus!”

Em vez disso, ela olha pela sala, erguendo a voz para ser ouvida por cima da música. (I like it, like it, yes I do, cantam os Stones, e acho que ouvirei esse coro idiota e fanhoso nos salões do inferno por toda eternidade.)

- Qual é sua aposta? Samba-canção ou sunga?

Com uma mistura de horror e fúria, percebo do que estão falando agora.

- Samba-canção! – ele exclama – Claro! Dá só uma olhada no cara!

“Babaca!”, quero gritar. “Provavelmente você pensa que qualquer um com mais de 40 anos usa cueca samba-canção! Provavelmente pensa que, quando chegar aos 40, vai...”

A médica desabotoa minha bermuda e abaixa o zíper. Em outras circunstâncias, eu ficaria extremamente feliz que uma mulher tão bonita (um pouco severa, sim, mas mesmo assim bonita) fizesse isso. Hoje, porém...

- Perdeu Peterzinho – diz ela – Sunga! Dólar na caixinha.

- No dia do pagamento – diz ele, aproximando-se. Seu rosto está perto do dela, eles olham para mim através das máscaras de plexiglas como um par de alienígenas do espaço olhando para um abduzido. Tento fazer com que vejam meus olhos, me veem olhando para eles, mas estes dois idiotas estão olhando para minha roupa de baixo.

- Ah, e é vermelha – diz Peter.

- Eu diria mais um rosa pálido – diz ela. – Levante-o para mim, Peter, ele pesa uma tonelada. Não é de espantar que tenha tido um colapso. Que seja uma lição para você.