Sonho de Angelina
Desde menina, o sonho maior de Angelina, era um dia dar luz a uma menina. Podia vir a ter até uma penca, ou um cacho de filhos varões mas, sem senões, questão fazia, mão não abria, e a Deus sempre pedia, u'a menina que lhe daria a suprema alegria.
Os namoricos foram muitos, tão cobiçada aquela sua pele rosada, mas quando a paixão brotou foi um só o seu eleito e, com efeito, com uns poucos anos, o casamento veio a jeito. E logo veio o primeiro rebento, um menino, loirinho, zuim azul, um xodó só.
A busca de uma irmanzinha para lhe fazer companhia, coisa mais natural, pressa e preces, coisa e tal é que não alcançava a graça do Senhor. E não foi por falta de labor e louvor.
E a medida que o tempo passava, a cada chuca-chuca que nos cabelinhos de Rúbio formava, a vontade de ter a menina o coração da mãe inundava. E não deixava de amar o pirralho que até dava pouco trabalho, obediente, inteligente e afetuoso.
Mas os brinquinhos, os braceletes, os enfeites e adereços com que Angelina tanto sonhava... Rúbio, ainda pre-adolescente ganhou sua penteadeira, com espelho e gavetas, carregadinha de xampus, cremes, loções, escovas...
Mas queria também ganhar a rua, brincar com a meninada, dar e levar suas caneladas atrás de uma bola...falar palavrão... e a mãe hesitava, coração na mão...até que um dia venceu a insistência do menino.
Só que em vez do ki-chute, pois é, chegou em casa com as sapatilhas de balé...