E o Presidente respondeu!

Luliz havia apostado todas as fichas no Banco Financial. Mesmo com aquele aperto costumeiro, chegara aos catorze contos e tanto de economias confiadas àquela casa. O ordenado de Luliz e da mulher Teté estava há muito estagnado mas as horas extras, as férias e a permanente vigilância nos gastos haviam possibilitado a montagem gradual e segura daquele pecúlio.

Com a meninada a crescer, as necessidades de mais gastos seguiriam

na mesma proporção, mas o importante era ter formado aquele cabedal, modesto, mas honesto. E seguro.

Até que veio a nova da quebra do Financial. Fechou a agência, fechou o tempo. O alvoroço e o sentimento de impotência iam se abatendo sobre os correntistas. O pessoal do banco, outrora com aquele ar circunspecto e respeitável sumira da praça. Polícia foi acionada para proteger a propriedade.

Em meio ao desespero, Teté deu uma idéia a Luliz: escrever a quem de direito, reclamando os seus. Expondo o seu caso com o candor e a franqueza que assomam os mais desprotegidos nessa hora.

E os seus quatro anos de escola, somados aos da escola da vida deram-lhe ânimo e iluminação, ainda que sob a chama fraca e hesitante da lamparina: escreveu ao Presidente.

Sim, ao Presidente. E o Presidente, JK, suponho eu, respondeu, ordenando o banco a liberar aquelas parcas mas preciosas economias.

E foi cuidar de criar Brasília, dançar suas valsas, e outras ingrisias.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 06/04/2015
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