O DROPS
Por Gustavo do Carmo
Marilene sentia-se infeliz e obesa. Estava desempregada e sem dinheiro. As amigas não a procuravam há anos. O jovem por quem se apaixonara havia acabado de se casar com a sua desafeta. E ainda era virgem.
Um dia, no auge do seu desespero, tentou se matar. Mas, antes de encontrar o revólver, achou uma velha bala na gaveta. Não a munição da arma e sim a guloseima. Era um drops, na verdade.
Chupou. Começou a flutuar, como um antigo comercial deste drops, em que um casal o colocava na boca e saía de um restaurante voando para comer no terraço. Marilene já planava pela sua casa, pela rua, pelo bairro, pela cidade.
Sentia, de longe, a inveja das ex-amigas e do ex-amado ao verem Marilene voar levemente como um pássaro sem rumo ou um avião sem problema de tráfego. Até que uma andorinha pousou sobre suas costas e lhe deu uma bicada.
Marilene acordou para a realidade. Estava na UTI de um hospital público, com as duas pernas, os dois braços e a clavícula fraturados. Continuava desempregada, pobre, infeliz, infantil e obesa. Pelo menos o drops era light.