Indecência infantil
Todo mundo de olho na pelada. Dessa vez não eram o petizes, eram os mais graúdos que se digladiavam apaixonadamente atrás da bola ocupando quase todos os espaços da nossa empoeirada rua.
Eu, nos meus seis ou sete anos não tinha mesmo vaga naquela acalorada batalha. Mas vontade não me faltava. Já ar, quase nem respirava, tamanha minha concentração em seguir todos os lances, de pé e espremido sob o arco do portão de minha casa.
E como um fim de tarde, ou algum feriado, das janelas muita gente observava a peleja, fazendo comentários, gracejos e outros gestos sobejos. Inclusive papai e minhas duas irmãs mais velhas, La Toya e La Belle.
Absorto, menos pra vivo do que pra morto, eu seguia tudo, lance por lance daquele jogo nervoso, viril, agitado. E assim foi que nem notei a aproximação subreptícia de La Belle pelas minhas costas, que, num único movimento, zás: baixou-me o calção da cintura aos tornozelos! Vapt, vupt! Tava eu nu, nuzíssimo para a vista de toda a rua!
Quando me dei conta situação ainda hesitei em levantar logo o calção, que me tolhia os passos, proferir uma fatwa (sentença de morte) à crudelíssima mana, ou chorar de vergonha da súbita exposição.
Fiz os três conjunta e atabalhoadamente, o que deu tempo à Belle de buscar refúgio onde pudesse. Correr atrás, com paus, pedra e vontade não adiantou. Papai logo me dissuadiu de um segundo crime. E eu me dissuadi, a sós do terceiro: ver como terminava a pelada.