Visita do Santíssimo
Ainda cheirávamos a sabonete quando mamãe nos pegou todos para deixar na casa de vovó, a duas quadras de distância, a caminho da fábrica. O Santíssimo seria trazido ao povoado para a procissão e as bênçãos, naquele dia de semana mesmo, em meio ao sol inclemente.
Como a procissão só percorreria o quadrado central - que não incluía nossa ruela, sem saída, afinal - ela tomou a decisão de nos deixar na casa de vovó pra vermos o movimento e recebermos as bênçãos, das tias e das eucaristias.
Mas antes de sairmos e deixarmos nossa casa trancada resolveu ela pendurar para fora da janela frontal a guarnição mais bela - ainda que singela, mas engomadinha feito entretela - para homenagear o visitante ilustríssimo, e santíssimo. Ainda ornou a toalhinha com uma ramada que colheu do jasmineiro, de refinado cheiro.
À medida que nos acercávamos da casa de vovó, fomos constatando que praticamente todas as casas que se encontravam no percurso de passagem do Santíssimo vinham exibindo suas toalhas multicoloridas, tinham as frentes bem varridas, algumas até regadas para se apagar a poeira.
Quando contamos pra Tia Vicentina da toalhinha que mamãe havia botado na janela ela, com seu jeito prático de ver as coisas, foi logo dizendo: mas pra quê, o Santíssimo não vai passar por lá e mesmo se esticar o pescoço, da esquina, não dá pra ver patavina. E me deu e doeu aquela fúriassanina...se pudesse eu teria esganado Ticintina…