Meu pai
««««Não sei um bom título, se puderem me ajudar...»»»»
Meu pai é uma figura que só ele. É uma figura muito ocupada, para dizer mais. Não para nunca. Ele chega do trabalho e trabalha em casa. E quando termina de trabalhar em casa, trabalha um pouco mais, só para não se esquecer de trabalhar. Dá agonia. Dizem que criança tem energia para dar e vender, entretanto, eu me canso só de olhar para ele. O que eu queria mesmo era que ele brincasse comigo. Só isso.
Um dia eu disse a ele:
– Pai, me ajuda a escrever uma palavra? – Não era nem um pedido absurdo.
– Agora não dá – Disse ele.
– Pode, ao menos, me dar um papel?
Então, meu pai abriu uma gaveta e de lá tirou uma pasta com muito custo. Abriu-a e puxou uma folha branquinha, sem linhas.
– Aqui está. Mas, olha, aproveite bem essa dai. Aproveite cada espaço em branco.
O que ele quis dizer? Demore com ela. Eu sei que você virá atrás de outra, mas, pelo menos, demore muito com a que eu te dei.
– Tudo bem.
Eu carreguei o papel e fui para um canto da sala. Sentei-me no chão e ensaiei para escrever a palavra que eu queria. Mas, parecia que ela relutava em sair. E relutava tanto que eu já estava me cansando. Então, minutos depois aconteceu que eu dormi. Dormi ali mesmo, encostado na parede.
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Eu escrevi no papel branco uma palavra qualquer. De repente, a palavra ganhou rodas e correu o papel todo. Tornou-se um carro descontrolado. Então, desenhei muitos blocos e construí um muro alto. Dividi a folha ao meio e limitei o espaço. O carro, então, começou a buzinar e o fazia como louco. Foi quando eu tive que tomar as devidas providências. Passei o lápis sobre o papel e, rapidamente, fiz um guarda, que logo estendeu a mão, mas o carro não cessou o buzinar. Foi ai que eu me apercebi do fato e desenhei um motorista. Este, entretanto, começou uma discussão com o guarda. Falou que não iria parar com o barulho porque não havia ninguém ali por perto. E a autoridade rebateu dizendo que do outro lado do muro, sim, tinham pessoas, bons trabalhadores que mereciam silêncio, o que era mentira até eu fazer as casas e, nelas, pessoas em seus camas. Depois disso o motorista abaixou a voz, e também a buzina, mas mordeu seus dentes com força e raiva. E, ainda, acrescentou palavras que crianças não deviam ouvir. Depois, foi cada um para um canto do papel, isolando-se um do outro. Mas, não termina por aqui essa bagunça toda. Aqui é o fim apenas da primeira parte. E a segunda começa com as pessoas acordando famintas do outro lado do muro. Como é natural, foram à cozinha e abriram a geladeira. Nada. Partiram para os armários. Nada. Então, começaram a procurar em lugares improváveis: debaixo da cama, debaixo dos tapetes, dentro das caixas de sapato. Até debaixo da pia do banheiro procuraram. E depois que ali também não encontraram nada, forçaram todos o muro que dividia o papel e o tentaram derrubar, porque acreditavam que o sustento estaria ali, do outro lado. Entretanto, quando o muro ruiu, a decepção tomou conta dos rostos. Só havia o guarda e o motorista daquele lado. E os dois já estavam com fome também. Com isso, por estarem todos ao extremo, uma briga feia proliferou rapidamente. E foi nessa hora que eu desenhei uma mesa enorme e também um banquete só para não haver mais nada de ruim. Mas, me esqueci das cadeiras. E isso foi um problema. Porque o povo começou a se cansar e logo a murmurar. E foi com os murmúrios que eu mais me aborreci. E, de repente, num surto de tensão, peguei aquele papel todo rabiscado e o rasguei em pedaços dão pequenos quanto o menor dos meus dentes. Joguei todos eles no lixo e fui para o meu quarto. Aquele papel me rendeu tanto tempo que meu pai deve ter se sentido bem aliviado.