Toda meiga, ei-la que chega...
As tardes eram tão sentidas, que pareciam eternizar-se. No calor exterior, e naquele friozinho na barriga, antecipador. Mesmo no tempo escolar, a alternância casa, quintal, quase que se podia metronomizar.
Mamãe na fábrica era a ausência mais conspícua. E quando ela voltava então, fosse fim de seu expediente, fosse apenas para amamentar algum dos mais recéns-nascidos, era um acontecimento, ainda que breve e leve.
Por vezes, do caminho, trazia alguma novidade, como sorvete do bar do Teco, num caneco. De alumínio, que dava a sensação de melhor se conservar sob aquele sol de rachar. E rachávamos aquela iguaria nas colheradas que iam se passando de boca em boca. E que não era coisa pouca. Mas o sabor, predominante de coco ou de creme, insistia em se aninhar nos palatos bem gratos.
Outra hora, era Tia Vicentina que estava a nos pajear. Contava casos antigos num compasso suave que não dava margens a requestionamentos. E nesse meio tempo, da palha que havia, uma peteca pra nós fazia, quando não era uma sombrinhazinha de palhetinhas metálicas de teares, com fios coloridos reciclando o material que se descartava da fábrica...
Aí vinha também o café da tarde. Quase sempre na companhia de um pãozinho, de sal, ou sovado, mais docinho e macio. E se derretia toda meiga, até se faltasse manteiga.