O Velho
Recupero-me aos poucos, mas ainda não me restabeleci
completamente. Os medicamentos que tomo rotineiramente apenas provocavam sonolência, nunca alucinações.
As pessoas que têm contato comigo acham que o surto nervoso pelo qual passei, ocorreu devido à notícia da doença, câncer, descoberto em Helena, minha mulher. É claro que este foi um dos fatores, mas não foi o principal.
Tento agora relembrar como tudo começou: ao caminhar por uma das calçadas do bairro onde moro em Santo André, há décadas, deparei-me com um despejo irregular de pedaços de madeira, talvez de antigos móveis e um velho sofá. Sobre ele havia um quadro retratando um homem velho, sentado numa espécie de nicho de uma parede suja. Tinha pequena estatura, terno amarrotado, sapatos sem cadarços e um chapéu surrado.
Levei o quadro para casa. Helena achou bonito, porém triste. Pendurei-o na parede do quarto dos fundos e assim ficou.
Todos os dias, era inevitável, passava muito tempo sentado em frente ao quadro observando o velho retratado. Comecei achar que o seu olhar também me acompanhava. Falei com Helena. Ela não concordou, disse que os olhos do homem estavam quase fechados, mas que ele parecia-se comigo.
Numa noite tomei os remédios de rotina e fui dormir. O velho apareceu num sonho ou alucinação, não sei.
- Veja, disse ele, não somos apenas parecidos, como disse Helena, somos a mesma pessoa. Eu sou você daqui alguns anos. Se não fizer nada a respeito, vai acabar assim. Sou o retrato do seu futuro.
- Bobagem, respondi, por que eu ficaria assim?
- Não sei exatamente, mas depois que a Helena morreu, eu, você, desistiu de tudo. Perdeu o que possuía , inclusive a dignidade, passou a morar numa pensão vagabunda e passar quase todo o tempo na rua. O retrato mostra isso.
- Helena está viva e saudável! Gritei.
Acordei assustado com o telefone tocando. Atendi.
- Senhor Vitor? Aqui é do Hospital Santa Bárbara. Infelizmente tenho más notícias. Sua esposa Helena está internada.
- O que ela tem? Perguntei angustiado.
- Câncer, senhor, parece que ela escondeu do senhor, está em metástase, estado terminal...
Recupero-me aos poucos, mas ainda não me restabeleci
completamente. Os medicamentos que tomo rotineiramente apenas provocavam sonolência, nunca alucinações.
As pessoas que têm contato comigo acham que o surto nervoso pelo qual passei, ocorreu devido à notícia da doença, câncer, descoberto em Helena, minha mulher. É claro que este foi um dos fatores, mas não foi o principal.
Tento agora relembrar como tudo começou: ao caminhar por uma das calçadas do bairro onde moro em Santo André, há décadas, deparei-me com um despejo irregular de pedaços de madeira, talvez de antigos móveis e um velho sofá. Sobre ele havia um quadro retratando um homem velho, sentado numa espécie de nicho de uma parede suja. Tinha pequena estatura, terno amarrotado, sapatos sem cadarços e um chapéu surrado.
Levei o quadro para casa. Helena achou bonito, porém triste. Pendurei-o na parede do quarto dos fundos e assim ficou.
Todos os dias, era inevitável, passava muito tempo sentado em frente ao quadro observando o velho retratado. Comecei achar que o seu olhar também me acompanhava. Falei com Helena. Ela não concordou, disse que os olhos do homem estavam quase fechados, mas que ele parecia-se comigo.
Numa noite tomei os remédios de rotina e fui dormir. O velho apareceu num sonho ou alucinação, não sei.
- Veja, disse ele, não somos apenas parecidos, como disse Helena, somos a mesma pessoa. Eu sou você daqui alguns anos. Se não fizer nada a respeito, vai acabar assim. Sou o retrato do seu futuro.
- Bobagem, respondi, por que eu ficaria assim?
- Não sei exatamente, mas depois que a Helena morreu, eu, você, desistiu de tudo. Perdeu o que possuía , inclusive a dignidade, passou a morar numa pensão vagabunda e passar quase todo o tempo na rua. O retrato mostra isso.
- Helena está viva e saudável! Gritei.
Acordei assustado com o telefone tocando. Atendi.
- Senhor Vitor? Aqui é do Hospital Santa Bárbara. Infelizmente tenho más notícias. Sua esposa Helena está internada.
- O que ela tem? Perguntei angustiado.
- Câncer, senhor, parece que ela escondeu do senhor, está em metástase, estado terminal...