O CASO DE DESAFETO ENTRE AS MINHOCAS E OS PERNILONGOS DA DENGUE

O fato de parecer uma enorme veia e não possuir sangue algum que preste é que fazia com que o pernilongo da Dengue odiasse a minhoca. Boca suja, ele e sua turma faziam questão de maltratar verbalmente as pobres anelídeos. "Essas porras gosmentas não sabem se são cobras ou se são lombrigas", "só fazem é partir-se ao meio e ficar rabichando para lá e para cá", "passam o dia a enfiar a cabeça ou a bunda, nem sei qual lado é o que, num lado da terra e sair do outro".

E mais invocado ainda ficava o enraveicido mosquito por ter nascido em um paraíso infestado de minhocas e sem qualquer rastro de humanos ou de macacos por perto. Blasfemava sempre ele contra Deus por não tê-lo feito nascer em uma floresta vietnamita em vez da Amazônia. Isso porque as florestas do Vietnã – pelo menos antes do Agente Laranja eram – são bem providas de sanguessugas. Não era certo de dentro delas haver sangue do bom para eles, o de humano, mas pelo menos tinha o que beber se a vítima tivesse abastecida.

Além de ser brasileiro, outro fato deixava o jovem mosquito emputecido: o nome com que era conhecido: Aedes aegyptus. Ou Aëdes albopictus. Olha que merda de nome! Sim, senhor, tinha mais esta: a má fama de ser conhecido como transmissor do vírus da Dengue, o que o deixava ainda mais marginalizado e dificultado o contato com os humanos, portadores da qualidade de sangue mais apreciada pelo Aedes.

E para piorar, a aparência do mosquito o denunciava fácil fácil e se ele aventurasse fazer uma longa viagem até a comunidade habitada por gente mais próxima estaria fadado, sem condições de se esquivar devido ao cansaço, a tomar um tapa nas fussas e ser pregado abatido numa parede para servir de exemplo para os outros. Qualquer criança reconhece seu nariz bicudo equipado com canudinho e a perna vestida com o meião do Galo... hum... do Botafogo... hum... do Corinthians... enfim: sua perna listrada alvinegra.

E o chato é que o povo não sabe que é só a fêmea do Aedes que apresenta perigo de contaminação de Dengue. Vira e mexe a comunidade machista do mundo dos pernilongos dá umas belas bordoadas em suas fêmeas para elas pararem de queimar o filme deles. E nem adianta elas recorrerem à Maria da Penha porque na sociedade pernilonguense ainda não tem essa lei.

Consta que pensava a liderança dos pernilongos um meio de aproveitar a enorme disponibilidade de minhocas na região que eles ocupavam para lhes trazer o que eles queriam e precisavam tanto: humanos. Fizeram uma pesquisa no Google, apenas um punhado deles fez uma viagem até a civilização mais próxima para encontrar alguém que tivesse acesso à internet, e no radar de busca encontraram a informação que talvez eles pudessem explorar: "As minhocas são muito apreciadas pelos peixes". Eles deram pulos de alegria porque a Amazônia é cheia de peixes. Outra praga que não tem sangue algum, senão eles nem dariam-se ao trabalho de preparar uma campanha para fomentar na região o turismo pesqueiro. Pescadores e pernilongos já é clássica a tradição de que se relacionam muito bem. Enquanto o primeiro pesca o segundo se alimenta. Sofrem ameaças de safanões os insetos, mas geralmente só passam perto os tapas. Os caras ficam muito concentrados na vara que eles seguram. Eu, hein?!

Então, foram até as minhocas os pernilongos verem com elas se elas topariam entrar no negócio. Para elas o negócio teria vida curta, então elas não toparam. Os pernilongos, com essa, se viram a ter que partir para a publicidade enganosa. Ou melhor: para a apropriação indevida ou para o escravismo. Fizeram aparecer na mídia PIG brasileira, a que tem visibilidade e que aceita acordos inescrupulosos se bem pagos, que o Amazonas estava repleto de peixes implorando para serem pescados e na própria margem do rio se conseguia as iscas a custo zero. Sem grana para gastar com iscas e sem peso para carregar até o rio, que pescador não ia querer viajar até lá para praticar um pouco de seu hobby preferido? E não deu outra: A floresta se viu tomada de gente querendo pescar.

Porém, o tiro saiu pela culatra. As minhocas não levaram a pior porque os pescadores que são alcançados pela grande mídia são pescadores urbanos. Empresários que querem posar de mantenedor de hobbies exóticos e vão para pescarias e para campings como quem vai para uma feira de tecnologia. As iscas que eles usavam eram sintéticas, minhocas transgênicas. Os peixes se ferraram, mas para combater os mosquitos, que conforme a tradição eles sabiam que iam aparecer para infernizar, os urbanos levaram altos repelentes de última geração. Tudo à base de DDT reformulado, do tipo que só atinge os insetos. A Monsanto, que foi a responsável por estragar as florestas vietnamitas, ficou feliz com os mosquitos por ter feito para ela o trabalho de publicidade para ela começar a destruir de vez com os seus produtos a Amazônia, que fica a jugo de mosquitos para defendê-la.

MORAL DA HISTÓRIA: Peixe morre pela boca, mas carrega um monte de mosquito junto.