A gota d'água
Emília sofria dos nervos. Já moça madura, mal se arredava da mãe, dona Maria, ou da casa, de onde já bem pouco saía. Seu pavor maior eram os trovões, os `relampos` e coriscos. E qualquer chuvinha era pretexto para se esconder no quarto e rezar, em alta voz, para que passasse aquele perigo atroz.
Gostava duma prosa, gostava dos moços, gostava de se distrair, mas tudo ficara condicionado ao tempo. Que não podia rugir - e seu mundo ruir. Mal tivera a pachorra de esquentar lugar na fábrica de tecidos, a uns cem metros de sua casa e decididamente onde não caía uma gota de goteira e com tanta gente a sua volta para protegê-la de raios e trovões.
A própria chaminé de tijolos lá estava pronta interceptar qualquer raio que do céu partisse e a `fapa` atingisse. Mas que é de que Emília cria em toda aquela parafernália? Sua proteção de fé que não falha era a barra da mãe, e pronto.
Aquele temor inusitado talvez decorresse de um trauma de infância, ou de uma perturbação emocional forte. Mas isso tudo são suposições leigas, ainda que meigas. Um chover no molhado, cê não acha, Emília?
Emíliiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaa!